Analista especializado em Ásia prevê a migração de riquezas do Oriente ao países em desenvolvimento.
"Os investidores deveriam eliminar toda a exposição ao mercado de hipotecas americano". O aviso foi feito por Christopher Wood, analista da CLSA, eleito um dos melhores especialistas da Ásia desde 2002.
Agora, ele prevê um grande problema na situação fiscal dos países e sugere a compra de ouro e o aumento de exposição aos emergentes.
Wood publica, desde 1996, uma aclamada análise semanal chamada "Ganância e Medo (Greed and Fear)", acompanhada por 10 mil clientes.
Acompanhe a seguir a entrevista concedida ao Brasil Econômico durante a última visita do analista ao Brasil na semana passada:
Brasil Econômico - O senhor alertou para o aparecimento de problemas nos empréstimos imobiliários subprime nos Estados Unidos. E agora? Há algum grande risco para os mercados?
Christopher Wood - A próxima grande crise no mercado financeiro global será a crise da dívida soberana do mundo oriental. Eu espero, nos próximos cinco anos, problemas graves na Europa Oriental, no Japão e também nos Estados Unidos.
Como resultado dessa crise, espero o colapso do padrão dólar. Por isso, tenho recomendado para os investidores, desde 2002, a compra de ouro.
O meu alvo mínimo de longo prazo para o metal, desde essa época, é de US$ 3.500 a onça. A base para essa ideia é que esse é o valor equivalente, ajustado pelo poder de compra em dólares, ao pico no preço do ouro em 1980.
Digo aos investidores que deter ouro é uma boa proteção para o problema da dívida soberana. Já tivemos uma crise da dívida privada no ano passado.
O mundo oriental acredita que esse problema está resolvido. Mas não foi isso o que eles fizeram. O que eles conseguiram foi estender as garantias do governo.
Assim, quando as dívidas governamentais entrarem em crise, os investidores irão deixar de acreditar nas garantias.
BE - E como proteger o dinheiro nesse cenário?
CW - O juro, nos Estados Unidos, não subirá neste ano. Com as taxas baixas e a expansão monetária, a liquidez excedente vai migrar do mundo oriental para os mercados emergentes.
Basicamente, o crescimento está nos emergentes. No mundo oriental, a tendência de crescimento é baixa, porque estão em um processo de desalavancagem. O volume de empréstimos nos EUA está declinando.
BE - Allan H. Meltzer - historiador especializado no Federal Reserve - disse em 2008 que o Fed estava fazendo a coisa certa ao reduzir o juro de forma rápida. Mas ele alertou que o Fed "não tem estratégia de longo prazo". O sr. concorda?
CW - Eu acho que eles deveriam ter deixado mais empresas e bancos falir. Um ponto é o aumento da dívida do governo o segundo, ainda mais importante, é o risco moral. Então, quando o governo salvou os bancos, os detentores de dívida não tiveram perdas.
Eles comprometeram de forma massiva a integridade do sistema financeiro com os resgates. A única decisão sensata foi deixar o Lehman Brothers falir. Mas a decisão foi arbitrária.
É muito estranho não salvar o Lehman e proteger o Bear Stearns e os seus credores. É o comportamento de um país do terceiro mundo.
Os maiores lucros no ano passado foram vistos no setor financeiro americano. E isso se deu por conta da ajuda do governo. Não tem nada a ver com o setor privado.
Hoje, 97% das hipotecas são hoje garantidas pelo governo.
BE - O Federal Reserve aprendeu com a crise bancária japonesa?
CW - Eu vivia no Japão em 1993 e escrevi um livro sobre a bolha do setor. A situação era parecida com a atual nos Estados Unidos.
O problema é que quando você corta o juro para zero, não há rendimento para os poupadores. Para quem deseja planejar a aposentadoria, é terrível. É bom para o tomador de empréstimos.
Quando a taxa é mantida muito baixa por um longo período, são criadas muitas distorções. Desde 1990, eles têm tentado sair do ambiente deflacionário, o que é muito difícil.
BE - O ministro das Finanças do Japão disse que tentará usar medidas fiscais para crescer. Isso pode funcionar?
CW - Boa sorte. O perigo é de que ele exploda a situação fiscal do país. A razão pela qual o mercado de títulos soberanos não explodiu ainda é porque a maior parte é detida pela população.
Os japoneses têm a tendência de fazer as decisões em conjunto. O risco é uma hiperinflação ou a manutenção do ambiente deflacionário.