quinta-feira, 11 de março de 2010

PIB em 2009 e em 2040

O IBGE divulgou nesta quinta-feira (11) que o PIB do Brasil registrou queda de 0,2% em 2009. Um número próximo de 0% já era esperado pela maioria dos analistas e, diga-se de passagem, pouquíssima diferença faz, mesmo sob uma perspectiva de curto prazo, se PIB cresce 0,2% ou, como no caso, recua 0,2%.

Sim, um número baixo ou negativo é algo ruim, mas é preciso ampliar a perspectiva de análise nesse momento em que o dado de curto prazo chama tanto a atenção na imprensa. Explico-me: no começo dos anos 1980 éramos mais ricos que os coreanos, enquanto agora a renda per capita por lá é cerca de 3 vezes a nossa. Meu ponto é que entender como isso se deu é muito mais relevante do que debater o dado bom ou ruim de um certo ano (em 1997, a crise do leste asiático gerou uma queda no PIB coreano de mais de dois dígitos, mas isso fez apenas cócegas na sua trajetória de longo prazo). Como economista preocupado com o desenvolvimento de longo prazo do país, não conseguiria seguir na análise do cenário de curto prazo sem antes fazer essa ressalva….

Como se sabe, 2009 foi um ano péssimo para a economia mundial como um todo, não apenas para o Brasil. Nos países ricos, mais diretamente atingidos pela crise financeira, a recessão foi bem mais pronunciada do que aqui na Terra Papagalis. E mesmo no grupo de Emergentes, poucos países, como China e Índia, tiveram desempenho claramente melhor do que o nosso (apesar de pior do que vinham apresentando nos últimos anos). Minha avaliação do curto prazo é, portanto, positiva: o Brasil se saiu relativamente bem, no ano de pior crescimento mundial em muitas décadas, ao crescer próximo a zero. Por que dessa vez não afundamos como no passado?

Por diversos motivos. Primeiro, devido à saudável regulamentação financeira prevalecente no país, que impediu que a exposição ao risco dos bancos fosse excessiva. Segundo, por conta do sistema de câmbio flutuante (hoje por muitos difamado!) que amortece os choques adversos vindos de fora: quando a coisa fica feia, o câmbio deprecia e assim, em alguma medida, contrabalança a perda de rentabilidade de alguns setores produtivos. Terceiro porque o BC reagiu rapidamente derrubando a taxa de juros e provendo liquidez ao sistema, impedindo que o pânico penetrasse em nossas fronteiras. Quarto, quando a crise chegou estávamos sentados em mais de 230 bilhões de dólares em reservas, o que alijou completamente qualquer preocupação em relação a um eventual calote. Finalmente, em quinto lugar, a queda temporária de impostos incidentes sobre os bens duráveis foi fundamental para afetar os incentivos das pessoas a irem às compras (e das empresas a produzirem) em meio a uma maré de expectativas ruins geradas pela crise. Por isso tudo, 2009 não foi um ano tão ruim como poderia ter sido, e o ano de 2010 promete ser bom, com crescimento na casa dos 5,5%, se nosso mais importante parceiro comercial individual, a China, não derrapar.

Esse é o panorama do curto prazo, mas gostaria de terminar com o alerta feito alguns parágrafos acima: não me preocupa muito o PIB de 2009 ou o de 2010. Me preocupa fazermos, como sociedade, as coisas certas hoje para que o PIB de 2040 seja bem mais elevado que o atual. Podemos começar com educação, infraestrutura, melhora da qualidade do setor público e um freio ao aumento das transferências. Que tal?

Fonte: Época - Sob a Lupa do Economista