quinta-feira, 11 de março de 2010

Problema com Brasil Telecom prejudica recomendação para Oi

O sentimento de insegurança e incerteza predomina no case de investimentos das ações da Telemar (TMAR5, TNLP3, TNLP4), mais conhecida como Oi. Para analistas, a indefinição com o caso da Brasil Telecom (BRTO4) acaba influenciando as recomendações.

Conforme explica o analista Bruno Mendonça, da Itaú Corretora, a Telemar é uma empresa que tem um quadro bom operacionalmente, em termos de fundamentos, mas que está ocultado por questões relativas a sua governança corporativa.

“Hoje, o principal assunto em pauta é a suspensão da relação de troca para incorporar os papéis da Brasil Telecom dentro da Telemar. Essa relação já estava definida desde a época do anúncio da compra em abril de 2008, mas em janeiro agora, eles [Telemar] resolveram comunicar ao mercado que mudariam esse ratio”, conta Mendonça.

O analista fala que a decisão da Telemar baseou-se na descoberta de R$ 2,5 bilhões em processos judiciais da Brasil Telecom relativos a seu plano de expansão de telefonia.

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Ao anunciar a segunda rodada de provisões desse montante de perdas, a Telemar voltou atrás em sua posição de manter a relação de troca definida no acordo de compra da BrT e anunciou a alteração – para baixo – da paridade, a fim de descontar esse prejuízo jurídico.

“Desde esse anúncio de quebra do ratio os papéis sofreram bastante. Os da Brasil Telecom sofreram por razões óbvias e os de Telemar porque estavam amarrados a eles. A partir do momento em que você fala que uma Brasil Telecom que antes valia ‘x Telemar’, hoje vale ‘x – R$ 2,5 bihões’, o papel despencou”, destaca o analista do Itaú.

No dia 16 de janeiro, um dia após a divulgação da notícia sobre a alteração do ratio, os papéis BRTO4, TNLP3, TNLP4 e TMAR5 caíram 4,06%, 3,70%, 3,27% e 3,08%, respectivamente.

“É claro que quanto mais perto do controlador você está, menos exposto a essas coisas você fica, mais seguro você fica de tomar um revés por conta de algum evento societário”, comenta Mendonça.

Para o analista do Itaú, o melhor veículo atualmente para quem quer apostar na companhia é no controle, ou seja, nas ações TNLP. “A TMAR5 e BRTO4 estão afundadas em toda essa disputa com relação a incorporação ou não”, destaca.

O Itaú tem uma recomendação de “market perform” (desempenho em linha com o mercado – neutro) para os três papéis da Telemar e coloca os preços-justo em R$ 70,10 (TMAR5), R$ 46,90 (TNLP3) e R$ 39,10 (TNLP4).

Em relação às cotações do último fechamento (R$ 53,30, R$ 39,10 e R$ 33,10), o potencial de valorização das ações é respectivamente de 31,5% (TMAR5), 20% (TNLP3) e 18,1% (TNLP4).

Novela
Com uma nova relação de troca entre Oi e BRTO a ser apresentado em breve, o mercado aguarda ansioso especulando se os minoritários aceitarão ou não a nova proposta da Telemar e se esta será justa.

“Toda vez que a Telemar apronta algo deste tipo, vem um histórico de todo um questionamento com relação a governança corporativa da empresa. A empresa já no passado, propôs processos de reestruturação que não foram considerados positivos para os minoritários”, destaca o analista do Itaú.

Mendonça conta que os acionistas já vinham sofrendo com uma política de dividendos incerta e decisões administrativas sem uma direção definida. “Vez ou outra, ciclicamente, os investidores acabam acreditando que de alguma forma a Telemar vinha melhorando e toda vez que ela apronta ou faz alguma coisa vista como negativa para os minoritários, o papel acaba sofrendo fortemente”, fala.

Mendonça conta que em 2009 havia uma discussão de que a empresa dava sinais de estar se preparando para pagar bons dividendos, dando retorno dos lucros aos acionistas, uma vez que reduziu sua perspectiva de capex (provisão de investimentos) para 2010, assim como diminui a própria perspectiva de desalavancagem que tinha.

“Ela precisou se alavancar para comprar a Brasil Telecom, mas vinha dando sinais de que estava confortável para manter um nível de endividamento mais alto e de desalavancar mais lentamente. Tudo isso levava a crer que a Telemar preparava a casa para pagamento de dividendos e tudo isso vem por água abaixo quando ela parou o processo de incorporação”, explicou o analista do Itaú.

Complexidade
Além da insegurança com relação à incorporação da Brasil Telecom, outro ponto que também é destaque negativo da Telemar é sua complexidade tanto com relação à empresa fixa quanto a seus papéis.

“Hoje é muito claro quando conversamos com investidor internacional, que a complexidade da estrutura da Telemar é o que faz ela negociar a um desconto significante em relação a seus pares internacionais, como a Telmex do México”, fala Bruno Mendonça da corretora Itaú.

O analista acredita que enquanto sua estrutura não for simplificada e a classe de ações BRTO desaparecer, a empresa vai continuar pecando neste ponto.

“Parte da underform [desempenho abaixo do mercado] é por causa dessa decepção com relação a BrT e eu acho que se esses papéis da BrT permanecerem listados será negativo para todo mundo, especialmente para BRT, mas ainda muito negativo para Telamar também porque fica um case ainda mais difícil para justificar e explicar”, comenta Mendonça.

Momento de oportunidades
Para a analista Maria Tereza Azevedo, da Link Investimentos, justamente por conta desta certa “aversão” às ações da Telemar, este é um bom momento para investir nos papéis, já que estão com potenciais de valorização atrativos.

“A gente entende que tem alguns riscos associados aos papéis principalmente em função das novas provisões que foram anunciadas na Brasil Telecom, mas acreditamos que os papéis já estão precificando este downside, já que eles sofreram bastante quando a informação foi divulgada. Então achamos que hoje, para o setor, são ações com potenciais de valorização muito grandes”, explica Maria Tereza.

Ela conta que a própria direção da Telemar já anunciou que não vê a possibilidade de que a incorporação da Brasil Telecom seja revertida e que, se de fato ela não for revertida, os ganhos de sinergia serão muito positivos para a empresa.

“Além das sinergias ganhas pela nova empresa, a Super Tele, ainda têm os planos de expansão internacional, de fortalecimento dos mercados da Brasil Telecom, o apoio do governo brasileiro na questão da Telebrás e então vemos um cenário bastante positivo para o setor e a empresa”, destaca a analista da Link.

A Link tem uma recomendação de “outperform” (desempenho acima da média) para os papéis TMAR5, TNLP3 e TNLP4, com preços-alvo respectivos de R$ 88,00, R$ 52,00 e R$ 47,00.

Sinergias
Maria Tereza comenta que o principal ganho advindo das sinergias é a redução das despesas gerais, administrativas e comerciais da companhia. “Vai ter um custo no primeiro momento de integração e estruturação das companhias, mas toda a sua estrutura gerencial e operacional fica reduzida. Então não precisam mais ter duplicidade de áreas e profissionais que precisariam ter em duas empresas separadas”, explica.

Além disso, outro benefício previsto com a incorporação é a diminuição de custo com a própria gestão da rede de usuários. “Quando você aumenta sua rede de usuários de telefonia móvel, por exemplo, você reduz o seu custo de interconexão, já que há mais usuários se comunicando intrarrede da própria Oi. Você também tem ganho com a interconexão”, fala Maria Tereza.

No caso da rede, a Oi, principal frente da Telemar, também aumenta seu potencial de competição no mercado, com a adição dos usuários e produtos da Brasil Telecom e com a expansão de seus combos de serviços que envolvem o oferecimento de internet, televisão por assinatura, telefonia móvel e fixa (Oi Conta Total).

“Com a incorporação ela se torna um competidor mais forte em banda larga e telefonia fixa. Eles conseguem proteger melhor sua base de clientes de posturas mais agressivas por parte da NET e da GVT, por exemplo”, conta a analista da Link.

A única questão que ainda permanece com relação à incorporação é quando exatamente este ganhos de sinergia começarão a aparecer. A Link estima que o processo ainda vai demorar entre dois a três anos para que 100% das sinergias serem concretizados, ou seja, somente em 2012.

Fatia da pizza
Apesar de ter boas perspectivas de crescimento para a empresa, a Link avalia que a Telemar precisa de uma postura mais agressiva para crescer no mercado de telefonia móvel. “Para ela se posicionar como um quarto lugar no setor de celular ela precisa se esforçar mais em 2010 e ficar mais próxima da TIM”, fala Maria Tereza.

A analista comenta que, ao contrário da TIM, da Claro e da Vivo, em 2009 a Oi teve um acréscimo de 6,1 milhões de clientes em sua base de telefonia móvel, ao passar de 19,91% para 20,73%.

“Ela tem um diferencial positivo. Ela é a única concessionária de telefonia fixa que oferece o pacote completo que é o Oi Conta Total que tem telefonia fixa mais telefone móvel mais banda larga e TV por assinatura”, comenta a analista.

Ela explica que a Telefônica, apesar de ser controladora da Vivo, também não consegue fazer essa oferta combinada, já que é uma empresa separada da de telefonia fixa. Então isso deixa o produto dela mais competitivo em relação a preço em comparado a outros.

“A empresa está muito mais focada no momento em unificar as operações do que ativamente crescer e fazer esforço comercial. Acreditamos que este crescimento ainda não foi materializado, vai começar a acontecer em 2010”, conclui.

Sem espaço
Para a analista da corretora Spinelli, Kelly Trentin, a Brasil Telecom é uma empresa que tem “um belo desafio pela frente”. A economista avalia que o mercado de telecomunicações no Brasil está altamente competitivo e sem grandes espaços para novas aquisições, fusões e parcerias.

“Ela [Telemar] está inserida em um setor onde os investimentos são bastante elevados, a concorrência bastante alta e o processo de consolidação do setor está em andamento. Ela adquiriu a Brasil Telecom e agora não tem muito como se mexer”, fala Kelly.

A analista conta que existe - ainda que muito incerta - a possibilidade de que a Portugal Telecom venha a fazer um acordo com a Telemar. Porém, essa brecha em um mercado que está em plena fase de consolidação, dependeria da resolução do caso Telefônica-Telecom Itália.

“O controle da Vivo está dividido entre Telefônica e Portugal Telecom. Mas a Telefônica está também envolvida em um processo de aquisição da Telecom Itália e muito provavelmente ela vai ter que escolher entre um dos ativos por conta das regras antitruste do Cade”, explica Kelly.

Ela fala então que a possibilidade de expansão via acordos para a Oi seria apenas com a Portugal Telecom, uma vez que suas concorrentes já estão bem posicionadas no mercado e já realizaram aquisições/fusões nos últimos anos.

“É um momento de mudança bastante grande no setor. Possivelmente no ano que vem o setor vai estar bastante diferente do que ele está hoje. Os players vão ser os mesmos, mas distribuídos de modo diferente, então tanto a Telemar como as outras empresas do setor estão passando por um período desafiante”, reitera a analista da Spinelli.

A analista destaca que após a Vivo ter divulgado seus resultados do quarto trimestre, a empresa fez uma reunião com analistas e mostrou um cenário mais competitivo também em termos de tarifas.

“Isso, na minha visão, trouxe um sinal amarelo para outras empresas também. Podemos voltar a presenciar um setor mais competitivo em tarifas e isso pode acabar comprometendo as margens das companhias”, conclui Kelly.

A Spinelli está revisando seu preço-alvo para os três papéis da Telemar, mas atualmente possui uma visão neutra, acreditando em resultados operacionais e financeiros ainda fortes, mas em concorrências e problemas gerenciais negativos.

Fonte: Infomoney