quarta-feira, 10 de março de 2010

Um ano após a mínima na crise, BofA ML recorre à história para prever mercado

Por: Julia Ramos M. Leite
InfoMoney



Essa semana trouxe uma data importante aos mercados. No dia 9, terça-feira, havia se passado um ano desde a baixa histórica do S&P 500 na crise financeira, com 676.53 pontos. “E que diferença faz um ano”, afirmam os analistas do Bank of America Merrill Lynch, em relatório.

Desde o dia 9 de março de 2009, todas as classes de ativos – à exceção dos Treasuries norte-americanos – têm registrado retornos significativos, com destaque para small caps, mercados emergentes e, entre as commodities, o ouro. No S&P, 492 das 500 ações já se recuperaram.

Entretanto, a história em 2010 parece ser outra – a volatilidade do início do ano assustou os investidores, trazendo de volta temores de um “double dip” da economia, que ficam ainda mais fortes na menção das palavras “estratégia de saída”.

Apesar de esse realmente ser o principal risco pela frente, historicamente (desde 1926), o “Ano 2” do bull market, conforme denomina o BofA, é um período de ganhos – para o S&P, por exemplo, em torno de 9%. “O cenário macro, de baixas taxas de juro e lucros corporativos em ascensão, é bom para a renda variável”, apontam os analistas. Além disso, os valuations, apesar de não tão baratos, ainda oferecem valor relativo frente aos ativos de renda fixa. Sob a mesma forma de análise, os retornos em renda fixa não são tão atraentes.

Temas de investimento
O setor financeiro é o tema favorito do banco para 2010. De acordo com o estrategista-chefe de ações norte-americanas do BoFA Merrill Lynch, o segmento deve ter a melhor performance do ano por alguns motivos. Primeiramente, é a melhor opção entre os ativos cíclicos, já que a recuperação dos lucros dos bancos deve ser forte no período.

Em segundo lugar, os ativos do setor seguem classificados como underweight – performance abaixo do mercado -, apesar de seu bom desempenho recente. Além disso, as ações do segmento são correlacionadas com as ações de consumo e varejo, que traz um panorama encorajador para os ativos dos bancos.

Os investidores também devem se focar em aplicações com um fluxo de lucros e retornos seguros nos próximos anos, ao invés de altos – e incertos – retornos no curto prazo. Outro tema relevante no ano são os balanços de pagamento. De acordo com o banco, os investidores devem favorecer aplicações ligadas a balanços nas áreas de corporate nos EUA e consumo nos emergentes, já que os balanços de alguns governos desenvolvidos seguem em deterioração.

Ainda de acordo com os analistas, o hedge em commodities pode ser uma boa opção.

Inflação ou deflação?
Os altos níveis de dívida dos governos têm trazido ao foco preocupações. Caso os governos decidam sanar dívida através da inflação, a inflação poderia se tornar um problema. De acordo com o banco, os riscos de uma alta da inflação são baixos tanto nos EUA quanto no panorama mundial – a exceção são os preços de petróleo e gás. Se mesmo assim, os investidores seguem preocupados, o banco recomenda preferência por small caps e ações com foco em value investing, além de uma maior exposição a commodities do que a mercado imobiliário e renda fixa.

Entretanto, apesar de o cenário inflacionário ser improvável nos próximos dois anos, a mesma projeção não se estende aos períodos seguintes. “É importante que o Fed retire o excesso de liquidez do sistema financeiro. Se o Congresso pressionar a auditoria do BC e se o sucessor de Bernanke não tiver força política, a inflação se tornará um problema”, afirma o BofA Merrill Lynch.

Já no caso de a solução encontrada para as dívidas seja um aumento das taxas de juro, corre-se o risco de a economia entrar em novo colapso – trazendo assim deflação. Segundo os analistas, a deflação sustentada só seria provável caso os EUA resolvam seguir o exemplo japonês, e não consigam curar o sistema financeiro. Caso os investidores sigam preocupados com essa possibilidade, o banco recomenda exposição a bonds ao invés de ações e commodities, e ações com foco em growth investing.