segunda-feira, 28 de junho de 2010

O ambicioso plano da Petrobras

Rafael Paschoarelli - Professor de Finanças do Departamento de Administração da USP

Brasil Econômico

Em 2000, a Petrobras apurou uma receita líquida de R$ 50 bilhões. Em 31 de dezembro daquele mesmo ano, seu patrimônio líquido (diferença entre os ativos da empresa e seu passivo) era de R$ 25 bilhões.

No ano passado, a maior estatal do Brasil faturou R$ 183 bilhões e ostentou patrimônio líquido de, praticamente, R$ 160 bilhões. Os números e a evolução da companhia são impressionantes.

Considerando apenas 2009, o patrimônio líquido (PL) da petrolífera foi equivalente à soma do PL de grandes conglomerados brasileiros, como Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Gerdau e Usiminas.

O problema é que a dívida bruta da empresa já ultrapassa a quantia de R$ 100 bilhões, montante considerado muito elevado pelo mercado. Um dos principais indicadores que uma agência de rating emprega para conceder nota de crédito é chamado de índice de cobertura de juros (ICJ).

A regra é a seguinte: quanto maior o ICJ, mais segura é a empresa e menor é a chance que tem de não honrar seus compromissos financeiros com seus credores.

O ICJ da Petrobras é característico das empresas triplo A e isso é muito bom. Contudo, considerando o agressivo plano de investimentos que a empresa divulgou no início da semana passada, torna-se necessária uma rápida capitalização por parte dos sócios, sejam eles os atuais ou novos investidores.

O plano de negócios para o período de 2010-2014 divulgado pela empresa prevê investimentos de US$ 220 bilhões mais amortizações de empréstimos da ordem de US$ 38 bilhões.

Trocando em miúdos: a Petrobras precisa buscar rapidamente fontes de recursos da ordem de US$ 260 bilhões entre 2010 e 2014. É muito dinheiro.

Parte dos recursos a companhia já gera internamente por suas atividades operacionais. Contudo, ainda faltarão cerca de US$ 100 bilhões que a empresa vai ter que buscar no mercado.

Ela não deve buscar esses US$ 100 bilhões exclusivamente na forma de dívida (ou, usando um jargão financeiro, capital de terceiros), pois isso arruinaria seu ICJ, tornando mais iminente um rebaixamento de seu rating, algo que não seria bom.

É por esse motivo que a empresa vai realizar um aumento de capital (capital próprio no jargão dos financistas), com a injeção de recursos por parte dos atuais e dos novos acionistas.

A tão falada capitalização da empresa - cujo cronograma foi alterado no mesmo dia em que os acionistas da petrolífera aprovaram a operação - é uma iniciativa necessária, oportuna e que deve ser feita com celeridade de modo a não atrasar o ambicioso plano de investimentos proposto pela companhia estatal.