segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por que faltam talentos?

Marcelo Mariaca - Presidente da Mariaca

Brasil Econômico

A cada semana, os jornais noticiam sobre a escassez de mão de obra qualificada e talentos em vários segmentos da economia brasileira.

A situação é mais crítica na área de petróleo e gás e construção civil, mas outros setores também estão com problemas, como o automobilístico, ferroviário, moveleiro, siderúrgico e metalúrgico e de transportes e de serviços, conforme revela recente levantamento feito pela Fundação Dom Cabral com as 76 maiores companhias do país.

A falta de mão de obra qualificada atinge todos os níveis de escolaridade e praticamente todas as posições. Com base em dados do Sine - Sistema Nacional de Emprego -, mais de 1,6 milhão de postos de trabalho oferecidos pelas empresas em todo o país em 2009 não foram preenchidos pelo sistema.

O motivo é a falta de qualificação dos profissionais, o que compreende baixo nível de escolaridade, falta de preparo técnico e de experiência.

A tendência deve se agravar em 2010, quando se estima que a economia crescerá de 6% a 7% e a oferta de emprego se expandirá.

São vários motivos que explicam esse "apagão". Em primeiro lugar, a falta de qualificação é resultado da precariedade do ensino fundamental e médio.

Levantamentos mostram que um grande contingente de estudantes se forma sem saber interpretar textos simples ou fazer as operações matemáticas mais elementares.

Ou seja, mesmo com cursos de qualificação esses profissionais terão dificuldades em atender às necessidades do mercado, pois apresentam grandes lacunas na formação básica.

O baixo desempenho dos estudantes de ensino médio, sobretudo nas disciplinas de física, química e matemática, tem prejudicado a formação de engenheiros nas universidades.

Recentemente, a imprensa noticiou que o país perde R$ 26,5 bilhões por ano, ou 1% do PIB, com falhas nos projetos das obras públicas em decorrência da má formação dos engenheiros.

A situação não é diferente em outras áreas do ensino superior. Basta citar como exemplo os altos índices de desaprovação de recém-formados nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil.

As chamadas áreas técnicas são as afetadas. Nas décadas de 80 e 90, quando o país crescia a taxas modestas, não se estimulou a formação de engenheiros e de outras profissões da área técnica.

Além disso, mesmo com a forte expansão do ensino superior, as instituições privadas preferiram criar cursos que exigem baixo investimento e pouca infraestrutura, como os das áreas de ciências humanas ou de administração.

O resultado é a falta de engenheiros civil, mecânico, naval, nuclear e com especialização em exploração de gás e petróleo.

Diante desse cenário, as empresas investem cada vez mais em qualificação, criando universidades corporativas ou assinando convênios com universidades e outras instituições.

Mas o governo precisa investir mais em educação, principalmente no ensino fundamental e médio. Sem profissionais qualificados, não conseguiremos atingir altos padrões de produtividade e qualidade, criar tecnologias, ampliar o número de patentes e melhorar a competitividade.