sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bovespa está sem combustível para andar

Daniele Camba

Mercado interno está 'caro' e blue chips, sob suspeita

Cada vez que o Índice Bovespa ronda as máximas históricas, o mercado se pergunta qual é o fôlego de valorização. A bolsa, no entanto, parece estar sem combustível para andar.

As ações voltadas ao mercado interno, como varejo, consumo e setor imobiliário, já subiram muito, refletindo o crescimento econômico, e neste momento possuem um espaço bastante limitado para novas altas. Já os papéis de setores ou companhias importantes dentro da bolsa como siderurgia, Petrobras e Vale tiveram desempenhos modestos ou mesmo ruins e não esboçam nenhuma condição de mudança desse cenário.

"Este foi um ano complicado, o Ibovespa bate cabeça e não sai do lugar porque quem tinha que subir já subiu e quem não se valorizou também não deve se valorizar", diz o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche.
Na visão dele, os papéis dos setores do mercado interno estão com preços salgados e nem mesmo a perspectiva de um bom crescimento econômico em 2011 justificaria um novo movimento de alta. "Não há espaço para essas ações continuarem se valorizando; elas já refletem uma economia aquecida no próximo ano", explica o gerente.

O desempenho no ano de algumas dessas ações ultrapassa os 60%, nada desprezível comparado com os 3,20% do Ibovespa. Entre os papéis que compõem o índice, as ordinárias (ON, com voto) da Lojas Renner, por exemplo, sobem 64,15% em 2010 e as da Souza Cruz, 59,39%.

Uma rodada de alta nesses papéis seria impulsionada por um novo fluxo de estrangeiros, mas nem isso Roche acredita que seja provável. "Esses investidores já estão super alocados em Brasil, inclusive a última 'pernada' de alta dos papéis de varejo e consumo já foi por conta da entrada de dinheiro internacional", diz.

Entre os papéis que possuem um peso importante no Ibovespa a valorização parece limitada. A Vale, por exemplo, possui sólidos fundamentos, mas existem dúvidas sobre quem será o sucessor do presidente, Roger Agnelli, cujo mandato acaba em maio do ano que vem. Não é novidade para ninguém que o governo gostaria de colocar na Vale um presidente alinhado com os seus interesses.

Já no caso da Petrobras, suas ações preferenciais (PN, sem voto) caem 27,46% no ano, e o cenário não é animador. "A empresa não tem catalisadores positivos que possam puxar os papéis", diz Roche. O mercado torce o nariz para os investimentos da empresa em refino, sem contar que os custos de exploração no pré-sal ainda são uma grande dúvida.