segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Está caro comprar banco no país, diz HSBC

Para instituição britânica, movimento de consolidação do setor na região chegou ao limite, à exceção da Argentina

Banco espera crescer em ritmo forte devido à expansão econômica na região, entre 5% e 6%, nos próximos anos

ÉRICA FRAGA


Novas aquisições não estão nos planos do HSBC para o Brasil. O gigante britânico do setor bancário acredita que o movimento de consolidação do setor no país chegou ao limite e os ativos ficaram muito caros.
Com exceção da Argentina, isso também vale para os outros países da região onde o banco opera.
"Comprar banco [na região] está caro. Do ponto de vista financeiro, não justifica o retorno", afirmou Emilson Alonso, presidente do HSBC para a América Latina e o Caribe, em entrevista exclusiva à Folha na semana passada.
Na América Latina, segundo Alonso, o banco espera crescer em ritmo forte -a reboque da expansão econômica robusta esperada para a região-, mas de forma orgânica. Hoje, o banco atua em 15 países latino-americanos.
O HSBC é o quarto maior banco privado que opera no Brasil, onde desembarcou em 1997 com a compra do Bamerindus.
A última aquisição do banco no país ocorreu em 2003, quando comprou os ativos brasileiros do também britânico Lloyds TSB.




América Latina
Temos uma presença importante na América Latina de forma geral, com cerca de 6% de participação do mercado.
Há a expectativa de que a América Latina como produtora de commodities tenha condições de crescer fortemente nos próximos dez anos, a taxas de 5%, 6%. Isso, para nós, é uma oportunidade importante.
Há uma população jovem na região que vai crescer nos próximos anos e vai demandar produtos financeiros.
Além disso, o comércio internacional entre a Ásia e a América Latina vem crescendo fortemente. Então, estamos rodeados por oportunidades de crescimento para esse mercado.

Fatia do mercado
Deve ficar por volta de 6%, 8%, porque a competição é muito forte. Assim como na Ásia, os bancos locais e regionais são muito fortes. Mas o crescimento orgânico da América Latina vai nos permitir ter um banco muito sólido e bem estabelecido.

Consolidação no Brasil
Acho que o movimento de consolidação chegou ao seu limite. Acho que não tem mais alternativas de consolidação, talvez alguns bancos pequenos e médios possam se consolidar entre si.
Mas não vejo muito mais oportunidades de consolidação no mercado brasileiro, porque está muito caro.
Isso vale para a América Latina em geral. Os ativos estão muito caros. Comprar banco está caro. Financeiramente, não justifica o retorno.

PanAmericano
O impacto deve ser muito limitado. Acho que a solução de mercado foi benfeita, sem muita repercussão.
Agora, temos de saber que os perfis de risco são distintos, entre um banco de primeira linha e um que pague talvez um rendimento maior, mas não tenha a mesma solidez.

Compulsório
Há uma distorção no mercado brasileiro, que são os depósitos compulsórios. Os bancos pequenos e médios têm dificuldade de se financiar porque não têm uma base tão larga de depósitos.
Cria uma barreira de entrada no negócio de forma sustentada. Fica caro para esses bancos se financiarem, e você pode ter financiamento em um dia e não ter no outro por conta dos movimentos de volatilidade do mercado.

Argentina
Com a morte do ex-presidente (Néstor) Kirchner, há uma percepção de que a Argentina pode ter uma mudança de governo e isso, na visão dos mercados, pode ser positivo.
A economia está crescendo porque o país é exportador de commodities, tem um endividamento público suportável, tem um nível de reservas confortável e o governo parece estar concluindo a renegociação da dívida.
Se houvesse uma boa oportunidade na Argentina, estaríamos abertos a comprar, porque [lá] os preços estão mais convidativos.