segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Terceiro aeroporto de SP une aéreas e construtoras

Andrade e Camargo negociam com TAM e Gol empreendimento em Caieiras

Governo vê projeto com simpatia, mas não pretende se envolver em disputas com prefeitura e Ibama

JULIO WIZIACK
MARIANA BARBOSA


As construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa ganharam apoio das companhias aéreas TAM e Gol para o projeto de construção de um terceiro aeroporto na região metropolitana de São Paulo, em Caieiras, a 35 quilômetros da capital.
A Folha apurou que TAM e Gol negociam entrar como sócias no negócio, que depende ainda de mudança regulatória para sair do papel.
A reportagem apurou também que o projeto conta com a simpatia do Palácio do Planalto, embora o governo queira manter certa distância do empreendimento.
O governo não quer se responsabilizar pelo custo político da obra, que deve enfrentar resistências por parte da prefeitura de Caieiras e também do Ibama.
As construtoras garantem que não precisam de recursos públicos. Dizem que vão levantar todo o capital (R$ 2 bilhões) na Bovespa, e prometem inaugurar o aeroporto antes da Olimpíada (2016).
"Vamos criar uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) e abrir capital para captar os recursos necessários", disse à FolhaOtávio Marques de Azevedo, presidente do grupo Andrade Gutierrez.
Se sair do papel, o novo aeroporto deve ter voos internacionais e terá capacidade para 22 milhões de passageiros ao ano. Isso equivale ao movimento de Guarulhos de janeiro a outubro deste ano.

MODELO DE EXPLORAÇÃO
Construtoras e governo ainda precisam chegar a um acordo sobre o modelo de exploração. Por lei, aeroporto é patrimônio da União, que delega a gestão à Infraero.
Mas a lei permite que a gestão seja repassada à iniciativa privada, em contratos de concessão, por prazo determinado. As construtoras, no entanto, defendem o regime de "autorização vinculante", com mais garantias e sem prazo para acabar.
Quando assumiu o Ministério da Defesa, em 2007, Nelson Jobim declarou a intenção do governo de construir, via Infraero, um terceiro aeroporto em São Paulo.
Mas o projeto foi engavetado e o governo passou a priorizar a ampliação de Viracopos (Campinas), juntamente com o trem-bala, como alternativa para desafogar Guarulhos e Congonhas. Com a decisão de adiar a concorrência do trem-bala, na sexta-feira, o projeto de Caieiras tende a ganhar força.
Para TAM e Gol, ter uma fatia do negócio significa poder para influenciar na gestão, impedindo aumentos abusivos de tarifa.
Se for seguido o modelo do edital de São Gonçalo do Amarante (Rio Grande do Norte), lançado em agosto, as aéreas poderão entrar com até 10% do capital.
A Folha apurou que a preocupação da presidente eleita, Dilma Rousseff, é a de que o aeroporto de Caieiras retire passageiros potenciais do trem-bala, que deve ligar Campinas, São Paulo e Rio.
Para as construtoras, potenciais participantes da licitação do trem-bala, há riscos maiores neste projeto.
"O projeto do governo diz que a obra custará R$ 33 bilhões", disse Azevedo. "Pelos nossos cálculos, não sairá por menos de R$ 45 bilhões. Como o vencedor da licitação vai cobrir essa diferença?".