sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Modelo econômico chinês não se sustenta"

Quando deixou Nova York, o plano do economista Michael Pettis era ficar dois anos na China para ir a fundo na economia do país.

Oito anos depois, ele leciona finanças na Universidade de Guanghua, em Pequim, é consultor de bancos de investimento locais e investe em entretenimento como proprietário de casa noturna, empresário de bandas de indie rock e dono de um selo musical.

Apesar de atuar em vários setores, é enfático ao alertar: a China não sustentará seu modelo de crescimento e vai desacelerar para 5% a 6% nos próximos dez anos.

No Brasil para participar de um seminário da Anbima sobre gestão de fortunas, ele diz que o modelo atual de expansão econômica é baseado em altos níveis de investimento. E avalia que o formato provocará bolhas em diversos setores da economia, o que já preocupa o governo.

No outro motor de crescimento do país, comércio exterior, ele não vê perspectivas: "Estou absolutamente convencido que na Europa pelo menos um país vai entrar em default, provavelmente a Grécia. Pelo menos os mais pobres terão que deixar a Zona do Euro, principalmente a Espanha" diz.

Outra certeza, segundo ele, é a de que a guerra comercial vai piorar muito. E questiona ainda o modelo de crescimento chinês. "Manter o crescimento chinês com base nos investimentos é algo insustentável."

O economista explica que a situação dos bancos é complicada: as taxas para depósitos são de 2,25%. Para empréstimos, estão pouco acima de 5%, sendo que a inflação oficial é de 4,4%.

"Significa que a taxa para depósitos está bastante negativa e a de empréstimos está quase de graça. Basicamente, as empresas são pagas para tomar emprestado", diz, ao explicar o alto nível de investimentos.

Segundo ele, nem China nem EUA vão mudar sua política monetária no curto prazo.

"Infelizmente, países como o Brasil sofrerão com entradas maciças de capital por causa dessa guerra entre EUA, de um lado, e países asiáticos, que estão intervindo em suas moedas do outro".

Ele defende que se os asiáticos pararem de intervir, suas moedas vão disparar e o crescimento vai desacelerar rapidamente. E se os EUA não fizerem estímulos monetários, seu déficit em conta corrente e o desemprego vão explodir. "Nenhum dos lados estão em condições de abrir mão", conclui.

"Pelo fato do Brasil ser muito eficiente como exportador de commodities, o país pode provavelmente deixar sua moeda se valorizar sem prejudicar a economia. O que vai acontecer é que o setor manufatureiro sairá prejudicado, e haverá aumento da dependência do Brasil em commodities", avalia. Isso, no longo prazo, dado que a China vai se desacelerar, "é muito ruim", alerta.

As previsões também não são boas sobre a Europa:"Estamos fingindo que Grécia, Portugal, Irlanda, Bélgica, Espanha e Hungria podem pagar suas dívidas enquanto recapitalizamos os bancos, até que haja recursos suficientes para que reconheçamos o óbvio: a maioria desses países simplesmente não pode pagar e terá que dar um calote".

Pettis defende que a solução para alguns países, como Espanha, seria abandonar o euro.

"Se você não pode fazer um ajuste via câmbio, tem que ajustar via emprego, mas a população não aceitará um desemprego de 20% a 25% pelos próximos cinco anos", diz.



Por Brasil Econômico - Juliana Rangel