sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Novo aperto monetário está próximo

Claudia Safatle


A deterioração da inflação e a forte retomada do nível de atividade econômica de outubro para cá indicam que a reação do Banco Central terá que ser rápida. O início de um novo ciclo de aperto monetário, com elevação da taxa básica de juros (Selic), pode estar bem próximo. No mais tardar, viria em janeiro, com sinais explícitos na ata da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 7 e 8 de dezembro. Essa será a última sob o comando do presidente do BC, Henrique Meirelles, e a decisão que for tomada dirá respeito a gestão do presidente indicado, Alexandre Tombini.

A variação do IPCA este ano caminha para 6%, ou 1,5 ponto percentual acima da meta de 4,5%. Para 2011, as expectativas também estão nessa mesma linha. A taxa de inflação implícita nos juros dos títulos do Tesouro Nacional, as NTN-B de um ano, superam 6%. O nivel de atividade começou a se reaquecer em setembro, depois de uma sensível desaceleração no terceiro trimestre. Emprego, renda e crédito crescem e a previsão é que o crescimento do PIB do último trimestre seja superior a 1%, comparado a algo entre 0,2% e 0,5% no terceiro trimestre.



No Ministério da Fazenda, a avaliação é que os aumentos de preços ainda estão muito concentrados em alimentos, e esses, em geral, sobem, mas depois caem, devolvendo a inflação gerada. Porém, além do aumento dos grãos, que agora se reflete nas carnes, há pressões sazonais vindas do setor de vestuário e o aumento do preço do etanol, que contamina os dos derivados de petróleo. Adiciona-se a isso o esperado reajuste de 7% das tarifas de ônibus em São Paulo.

    Parte do mercado vê BC atrasado no controle da inflação

Segundo os técnicos da Fazenda, ainda não está claro se a economia crescerá forte nos três últimos meses do ano ou se o que houve em outubro foi um fato isolado, um ajuste depois do freio de arrumação do terceiro trimestre. Eles não acreditam, no entanto, que o crescimento do fim de ano seja intenso o suficiente para superar os 5,5% de variação do PIB anual estimados para 2011. E esse percentual de crescimento, afirmam os técnicos, é sustentável.

Outras informações recentes, contudo, elevaram o grau de preocupação dos economistas encarregados de gerir a meta de inflação. Embora os alimentos tenham sido responsáveis pelo aumento dos preços, há nitidamente um movimento de segunda ordem de propagação sobre os demais preços da economia.

O índice de difusão do IPCA-15 para os preços livres, divulgado esta semana, mostra um universo cada vez maior de produtos com aumento de preços. Em outubro, era de 61,78% e, em novembro, subiu para 68,44%.

As medidas de núcleos de inflação também corroboram com essa visão. A média dos núcleos, que passou de 0,50% em outubro para 0,59% em novembro, aponta para um aumento acumulado de 5,39% em 12 meses. A inflação de serviços continua forte, 7,38% em 12 meses. Para os técnicos do Ministério da Fazenda, porém, parte desse aumento não é inflação, mas reflexo de uma mudança de preços relativos inerente ao processo de desenvolvimento do país.

Tudo isso ocorre num momento delicado de transição do governo Lula, de forte expansão do gasto público, para o governo de Dilma Rousseff, que deu sinais de compromisso com uma política fiscal restritiva.


Embora seja responsabilidade do Banco Central administrar a taxa básica de juros para fazer a inflação convergir para o centro da meta, que é de 4,5% até 2012, a intensidade e duração do ciclo de aperto dependerá da ajuda que o restante do governo der no controle do gasto público. Quanto maior for o superávit primário das contas públicas e mais moderado o crescimento da oferta de crédito, menor terá que ser a elevação da taxa Selic, hoje de 10,75% ao ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adiantou que, da parte do BNDES, não haverá uma expansão do crédito como a dos dois últimos anos.

A decisão do Copom em julho, de reduzir de 0,75 ponto para 0,5 ponto o aumento da Selic e estabilizá-la em 10,75%, foi considerada precipitada por uma ala importante do mercado. De lá para cá, o BC não conseguiu coordenar as expectativas. Essa mesma parte do mercado acha, agora, que o Banco Central já está atrasado no controle da inflação.

Se o manual básico da política monetária for inspirado em Nicolau Maquiavel, o Copom será rápido e contundente.