segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Quer apostar com o caçador de dividendos?

Um dos maiores investidores da Bovespa, Lirio Parisotto abre seu fundo para terceiros
Melina Costa - O Estado de S.Paulo

- Tem algum recado aí pra mim?, Lirio Parisotto, criador do fundo Geração L.Par, pergunta para sua secretária.

- Nada, diz a secretária.

- Viu só? Eu disse que aqui é muito tranquilo, diz Parisotto.

Ligado diretamente a um ambiente nervoso como o da Bolsa de Valores, Parisotto se esforça para mostrar que consegue manter um clima sereno na sede da Geração L. Par, fundo que administra R$ 2,6 bilhões.

O motivo da calmaria, segundo ele, é uma estratégia particular de investimentos que vem sendo sofisticada há quase 40 anos e fez de seu fundo o maior do País na categoria ações livre e de Parisotto um dos principais investidores pessoa física da BM&FBovespa. Mais de R$ 2 bilhões do patrimônio do Geração L.Par são dele.

Ao longo dos últimos três anos, Parisotto tem feito palestras pelo País para explicar como multiplicou seu patrimônio na Bolsa. Agora, os investidores que seguem suas dicas como mandamentos (veja quadro abaixo) poderão se beneficiar mais diretamente das suas estratégias. O L. Par, em si, é fechado para os rendimentos de Parisotto e seus "confrades", mas em meados deste ano a administradora Geração Futuro decidiu vender no mercado outros fundos (os chamados FICs) que, por sua vez, compram cotas do fundo de Parisotto. Agora, qualquer um pode entrar para o clube - desde que tenha, no mínimo, R$ 500 mil.

Hoje, os FICs acumulam um total de recursos de R$400 milhões. Um investidor, sozinho, tem R$100 milhões. A lógica de investimentos de Parisotto é peculiar. Como regra geral, o Geração L. Par aposta em empresas que pagam altos dividendos. Trata-se de uma estratégia conservadora, conhecida nos Estados Unidos como income stocks, ou "ações de renda". Em média, as empresas na carteira de Parisotto distribuem entre 40% e 50% do lucro para seus acionistas.

"Eu sou um caçador de dividendos. O que me interessa é o "faz-me rir". Então, não importa se o mercado subir ou descer. Eu invisto em empresas que terão lucro", diz. Em 2009, o Geração L. Par recebeu quase R$ 100 milhões em dividendos.

No ano passado, foram cerca de R$ 120 milhões. Neste ano, Parisotto espera bater um recorde e ficar perto dos R$ 200 milhões. "As boas empresas são previsíveis", explica. "Sou movido a dinheiro e não a cotação."

Cerca de 90% do fundo está concentrado em setores que Parisotto considera sólidos, como o bancário (que inclui empresas como Redecard, BicBanco, Banco do Brasil e Bradespar), o de siderurgia e mineração (onde estão Eternit e Usiminas) e o de eletricidade (com Eletrobrás e Eletropaulo).

Na crise, começou a comprar ações de bancos e hoje tem uma posição "pesada" no setor. "Tenho cerca de R$ 1 bilhão nesses papéis. Antes da crise, eu não tinha nada. Só vendi, com muita dor no coração, o ABC. Não porque seja ruim, mas porque me concentro em poucos."

O investidor também tem muito claro onde não colocar dinheiro. Fica de fora da sua carteira "tudo o que voa". "Grandes empresas que voavam não existem mais: Varig, Vasp... E quando um avião cai, vira assunto de primeira página no mundo todo." O varejo, setor que é um dos principais alvos de investidores estrangeiros no Brasil, também não o interessa. "Mesbla, Mappin, Casa do Rádio... As grandes cadeias de lojas não existem mais! O negócio de varejo, em si, é bichado. É um setor sem proteção. Se alguém achar um bom ponto de venda e fizer publicidade, vira concorrente", diz.

Parisotto abre espaço também para negócios que considera oportunidades. Como a construtora e incorporadora Tecnisa, por exemplo: "Em algum momento, o Meyer (Meyer Joseph Nigri, fundador da empresa) vai ter de se associar a alguém. Além de ser uma empresa boa, tem de haver uma consolidação", diz. E a Grendene: "É uma empresa excelente, com caixa monumental. Eles acertam nos lançamentos e têm um custo baixo com material e mão de obra. O quilo do PVC custa US$ 1,50. Quanto disso vai numa sandália?"

Desempenho. Segundo um estudo feito por meio de uma ferramenta de análise de fundos da Economatica a pedido do Estado, o Geração L. Par é o décimo no ranking de rentabilidade entre os maiores de sua categoria no País, com uma taxa de 6,62% desde o início do ano até o fim de outubro (boa parte dos fundos em questão está fechada para novos investidores). No mesmo período, a rentabilidade do Ibovespa foi metade disso. "Em 12 anos, nunca perdi para o Ibovespa", diz Parisotto.

O investidor, porém, questiona o ranking. "Diferentemente da maioria dos fundos, distribuímos, trimestralmente, dividendos aos cotistas. Esses valores acabam não entrando na nossa rentabilidade. Por isso, nossa posição na lista fica prejudicada", explica. Independentemente da posição, o fato é que os novos investidores não vão aproveitar a totalidade dos rendimentos do L. Par, já que terão de pagar uma taxa de administração entre 0,5% e 2% ao ano.

O professor de finanças Marcelo Moura, do Insper, analisou os dados da Economatica e fez uma ressalva: há uma grande oscilação dos papéis da carteira do L. Par. "E nos últimos três anos, o valor da cota do L. Par rendeu cinco pontos porcentuais a mais que o CDI, um investimento com risco praticamente zero", diz. "Mas esse é o drama do mercado de capitais em geral que compete com uma taxa básica de juros muito alta."

Mico. Apesar de uma maioria de acertos, a trajetória do fundo não é livre de tropeços, como no caso da companhia de energia Celesc. "Esse é o único mico da carteira", diz. Parisotto já entrou com cinco processos contra a gestão da empresa na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "É um caso de abuso do acionista controlador. Todos os diretores são indicados pelo governo." O ativismo de Parisotto não se restringe às brigas nas reuniões de conselho da Celesc.

Ele também acompanha paranoicamente o desempenho de cada um de seus investimentos. Afinal, a maior parte do dinheiro é dele mesmo.


Mandamentos

LIRIO PARISOTTO CRIADOR DO FUNDO GERAÇÃO L. PAR

"Não perca tempo com IPO (oferta pública inicial de ações, em inglês), você paga a conta literalmente."

"Nunca compre coisa que voa nem que fabrica objeto voador."

"Comércio varejista idem."

"Fique longe de empresas com sede em países exóticos."

"Aposte num azarão só para ter motivo de se desafiar e divirta-se."

"Tenha coragem e personalidade de enfrentar a maré contrária. Controle o medo na queda e a ganância na alta."