quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ritmo de IPOs e captação das empresas promete ser acelerado em 2011

Por: Rafael de Souza Ribeiro
InfoMoney


SÃO PAULO - Na esteira do bom momento da economia brasileira, os
volumes ofertados de valores mobiliários no mercado doméstico e
externo até novembro deste ano atingiram a marca inédita de R$ 290,7
bilhões, expressiva alta de 105% frente o mesmo período de 2009,
transparecendo o forte ritmo das captações das empresas do País via
mercado de capitais em 2010.

Segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicados até
a última quinta-feira (16), foram registradas 31 ofertas de ações
primárias e secundárias neste ano, movimentando mais de R$ 149
bilhões. No segmento de renda fixa, foram captados até o final de
novembro cerca de R$ 142 bilhões (incluindo emissões externas),
conforme dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais), alta de 48% em relação ao mesmo
período de 2009.

Apesar da cifra expressiva, é muito importante lembrar que o
desempenho excepcional do mercado de renda variável este ano deve-se,
sobretudo, à emissão de ações da Petrobras, que movimentou R$ 120
bilhões.

Não considerando a capitalização da estatal, foram levantados R$ 29
bilhões até novembro com emissões na renda variável, queda de 38,4%
frente aos R$ 47 bilhões vistos em 2009 e recuo de 17% em relação ao
montante de R$ 35 bilhões de 2008.

Comparações e considerações à parte, o que esperar para 2011? Será um
ano de forte presença de IPOs (Oferta Inicial de Ações) e OPAs (Oferta
Pública de Ações)? E com relação à renda fixa?

Expectativa positiva para 2011
"Há expectativa da realização de 30 a 40 IPOs em 2011", projeta Paulo
Sérgio Dortas, sócio da área de IPOs da Ernst & Young Terco, com base
no bom momento vivenciado pela economia doméstica, oportunidades
advindas da Copa do Mundo e Olimpíadas, além da exploração do petróleo
na camada do pré-sal. "As perspectivas são positivas e temos a
possibilidade de inclusive de bater, em valores, o total de valores
captados em 2007", destaca Dortas.

"Ao falarmos com compradores de IPOs nos EUA, claramente o Brasil é a
bola da vez em termos de destino dos recursos", ressalta o sócio da
área de IPOs da Ernst & Young Terco, que também projeta a elevação da
participação de fundos chineses no País para investimentos em IPOs,
"quadro que deverá influenciar no crescimento do volume de operações
no próximo ano".

Com relação às OPAs, Dortas projeta semelhante fluxo, assim que houver
uma melhora na precificação das ofertas, destaca.

A fim de atender este propósito, a CVM, em 25 de novembro, editou a
Instrução nº 487. "Em linhas gerais, a Instrução trouxe boas práticas
no que se refere às ofertas públicas de aquisição de controle de
companhias de capital aberto. No entanto, ainda é cedo para avaliar
seu impacto", afirma Arturo Profili, gestor da Capitânia.

Juro, dólar, inflação, PIB e as captações
Entre projeções de bancos e corretoras, alguns pontos quanto as
projeções para a economia brasileira no próximo ano são consenso:
aumento da taxa de juro, aceleração da inflação e desaceleração do PIB
na passagem anual. E como estes fatores afetarão o apetite por
negócios das empresas e investidores?

"As taxas de crescimento das empresas prometidas nos IPOs são tão
expressivas que dificilmente esta eventual elevação do juro afetará o
humor dos compradores", projeta o sócio da Ernst & Young Terco.

Com relação à perspectiva de aceleração da inflação, o gestor da
Capitânia acredita que haverá um aumento do número de emissões de
títulos indexados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo) e ao IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) ao longo do
próximo ano.

Sobre as medidas tomadas pelo governo para frear a entrada de dólares
na economia, especificamente com relação ao aumento do IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras) em outubro, Profili não prevê novas
iniciativas visando restringir a entrada de capital estrangeiro no
País. E Dortas enfatiza: "Teria que ser (um aumento de restrições)
muito relevante para afetar o apetite destes investidores".

Desafios e tendências
Como em todo ano, o aumento da base de investidores pessoa física e a
forte dependência do capital externo são os principais desafios para o
mercado de capitais brasileiro. Além do mais, outras duas
especificidades são tratadas pelos executivos.

Para Profili, além do número de investidores, o aperfeiçoamento do
arcabouço regulatório deverá ser uma constante no próximo ano. Dortas
chama atenção à necessidade de capitalização de empresas de menor
porte. "Este, a meu ver, será o grande desafio para 2011. A BM&F
Bovespa vem fazendo um ótimo trabalho na divulgação do Bovespa Mais,
que ainda não decolou".

Com relação às tendências, a emissão de títulos de dívida privada
será, como neste ano, um dos mecanismos mais utilizados pelas empresas
para financiar seus projetos. "Em 2011, acreditamos que haverá
expressivo aumento do número de emissões, havendo, de forma paralela,
uma redução do valor médio de cada transação", avalia o gestor da
Capitânia.

"O mercado de dívida continuará a ser um importante mecanismo de
financiamento das empresas brasileiras. Acredito que em 2011 poderá
haver uma sofisticação do perfil do endividamento, com a realização de
operações no exterior", afirma Dortas.

Letras Financeiras: uma nova alternativa?
No início do mês, junto ao aumento do compulsório, o Banco Central
anunciou a isenção de exigência de reservas para a emissão de Letras
Financeiras, a fim de fomentar uma nova alternativa de capitalização.
Segundo a Anbima, até o final de novembro, havia um estoque de Letras
Financeiras na casa de R$ 21 bilhões, cerca de 2,4% do total de
títulos bancários movimentados no mercado doméstico, atrás, somente,
do unânime CDB.

Apesar da expressiva marca dado o pouco tempo da medida, a isenção
terá efeito "moderado" quanto ao volume de emissão de Letras
Financeiras, aponta Profili, que justifica – "é importante ressalta
que as instituições financeiras de pequeno e médio porte ainda dispõem
de um vasto limite de emissão de CDBs não sujeito a recolhimento de
depósito compulsório".