quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

As razões para apostar nas "small caps"

Investidores que desejam aplicar nos mercados globais de ações geralmente se dirigem a companhias grandes e bem-estabelecidas. Muitos gestores de fundos vêm afirmando no momento que essas ações estão baratas, pelo menos nos mercados desenvolvidos, o que as torna atraentes. Mas se concentrar apenas nas grandes empresas pode significar perder ganhos que poderiam ser obtidos com companhias menores. "A exposição a companhias globalizadas menores numa carteira de ações oferece aos investidores a possibilidade de um prêmio no retorno sobre as ações", afirma Nick Hamilton, diretor de ações globais da Invesco Perpetual.

Historicamente, as empresas menores sempre têm um desempenho melhor em relação às suas congêneres maiores no longo prazo. E sempre apresentam uma recuperação mais vigorosa após as crises. Ao longo da última década, as companhias menores proporcionaram retornos anualizados que foram 7 pontos percentuais maiores que os das grandes empresas, segundo os índices MSCI World Small Cap TR e MSCI World TR. Esse desempenho superior aumentou para 15 pontos percentuais nos 12 meses de 2010.

Grande parte do desempenho das empresas de pequena capitalização de mercado pode ser atribuído ao fraco desempenho das companhias maiores, especialmente depois da bolha tecnológica de 2000, diz Hamilton. Enquanto isso, as pequenas empresas se recuperam mais rapidamente em uma recessão. As grandes empresas também descobrem que o crescimento se torna mais difícil à medida que aumentam de tamanho, enquanto a taxa de crescimento dos lucros das companhias menores avança ao longo do tempo.

O desempenho das companhias "small caps" também tem sido vigoroso no Reino Unido. O índice RBS Hoare Govett Smaller Companies (HGSC) mostra que as pequenas empresas superaram o retorno anualizado do índice FTSE All-Share em 3,4 pontos percentuais nos últimos 56 anos, enquanto no ano passado o índice HGSC apresentou um retorno total de mais de 26%, quase 12 pontos percentuais acima do FTSE All-Share.

Depois dos fortes retornos do ano passado, Joanna Parsons, diretora de análises de mercado do RBS no Reino Unido, acredita que as ações de empresas de pequena e média capitalização continuarão tendo um desempenho superior este ano, "assumindo que os negócios das ações sejam tão fortes quanto estamos esperando".

Apesar dos retornos melhores que os das grandes companhias, as ações das "small caps" continuam "fora de moda". Qual o motivo? Os investidores "não sabem muita coisa sobre as "small caps" porque poucos gestores de fundos se concentram nessa classe de ativos, afirma Hamilton.

Joanna Parsons afirma que investir nas "small caps" requer "mais tempo e esforço". Além disso, elas "demoram mais para serem negociadas". No front bancário, "nem todo banco está preparado para empenhar recursos nisso". Isso inclui análises sobre as companhias. Somente cerca de um quarto do universo das pequenas empresas é coberto pelos analistas, exigindo desse modo mais trabalho e uma perspectiva aprofundada das administradoras de fundos, além de equipes maiores. "Não é muito lucrativo", acrescenta Hamilton.

Os investidores podem ser atraídos pelos retornos elevados, mas sempre são demovidos pelos riscos maiores atrelados às empresas menores. A perspectiva de investimento de longo prazo também pode desencorajar os investidores, embora isso possa ser interessante para alguns fundos de pensão.

"É preciso ver as pequenas empresas como um investimento de longo prazo, com seus altos e baixos; elas não funcionam no curto prazo", afirma Andrew Cain, executivo-chefe da Dimensional Fund Advisors para o Reino Unido e a Europa. Ele acredita que a maior dificuldade para os investidores é a liquidez. "Na entrada, os investidores não querem pagar demais; e depois, na saída, a capacidade de converter ativos em dinheiro é mais restrita", afirma ele.

Muitos fundos de pensão estão subinvestidos em pequenas empresas, com exceção dos fundos de pensão dos Estados Unidos, que acabaram "se familiarizando mais com essa classe de ativos nas últimas décadas", diz Cain.

Esse gestor de fundos do Texas começou a se concentrar nas "small caps" no começo da década de 80 e, apesar de uma década em que a classe de ativo não se saiu bem, ele manteve a estratégia e nos anos 90 acabou sendo recompensado por ela. Desde então, ele ampliou suas estratégias, mas quase um quarto dos US$ 207 bilhões em ativos que administra ainda é atribuído às "small caps".

Um investimento ideal para os fundos de pensão é um portfólio de ações globalizado, que inclua "small caps" de países desenvolvidos e em desenvolvimento, segundo Cain. Aqueles que investem tendem a manter entre 5% e 10% da carteira em "small caps".

Investir em empresas pequenas, especialmente nos mercados emergentes, dá aos investidores uma exposição a setores diferentes dos das grandes empresas, proporcionando uma maior diversificação. Enquanto grandes empresas de países desenvolvidos e em desenvolvimento tendem a ser grupos financeiros, e dos setores de telecomunicações e serviços públicos, na esfera das "small caps há uma probabilidade maior de elas serem do setor de consumo.

Hamilton acredita que os interesses da administração e dos acionistas costumam estar mais alinhados mas empresas menores, uma vez que os primeiros tendem a ter um número considerável das ações das companhias, o que proporciona um incentivo para que eles sejam bem-sucedidos.

De fato, estudo do RBS mostra que as empresas menores superaram as grandes em 21 dos 26 mercados mundiais no ano passado, e em 24 dos 26 mercados nos dez anos até 2010. No segundo caso, os retornos anualizados das "small caps" foram 7,5 pontos percentuais maiores que os das grandes companhias. Na Invesco Perpetual, onde mais de US$ 1 bilhão está aplicado em estratégias "small cap", a maioria dos investidores institucionais do Global Smaller Companies Fund vem dos EUA e da Suíça. Já os fundos de pensão do Reino Unido e Austrália "não se interessam", afirma Hamilton.

No Reino Unido, os fundos de pensão estão reduzindo agressivamente a exposição às ações. Mas se eles tivessem sido "mais habilidosos no front das 'small caps', investindo cerca de 15% nessa classe de ativo, eles não estariam tendo os problemas de endividamento que enfrentam hoje", afirma.