segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"O futuro da América Latina é brilhante", afirma diretor do FMI

Por: Anderson Figo
InfoMoney

 "O futuro da América Latina é brilhante". Assim abriu seu discurso o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional) John Lipsky, nesta segunda-feira (24), durante o III Fórum Econômico Internacional sobre a América Latina e o Caribe, realizado em Paris, na França. Na ocasião, Lipsky ressaltou que a região vem se beneficiando da atual conjuntura econômica global, que favorece os mercados internos dos países pertencentes ao bloco.

"Com condições externas favoráveis e a atividade expandindo a um ritmo sólido, a região está passando por um momento excepcional de abundância", destacou. Segundo o diretor do FMI, a confluência entre os elevados preços das commodities e as condições mais acessíveis de financiamento externo dão força para o crescimento do consumo e dos investimentos na AL.

Contudo, Lipsky acrescentou em sua fala que todos esses aspectos positivos também trazem uma maior complexidade na administração das políticas econômicas da região. "Não é algo sem precedentes que bons tempos terminem dolorosamente", disse. "Por isso, a atual abundância de prospecções positivas não justifica a complacência", completou.

Emergentes vs. Desenvolvidos
De acordo com Lipsky, a maior estabilidade macroeconômica ao longo da última década ajudou os países da América do Sul a registrarem progressos notáveis na área social e humanitária. "O sucesso na prevenção de perdas maiores na receita durante a crise global ajudou a garantir que as melhorias 'pré-crise' nas condições de vida e na redução da má distribuição de renda fossem preservadas", avaliou o diretor do FMI.

A versão mais atualizada das estimativas do Fundo para a economia global, segundo Lipsky, será divulgada na próxima terça-feira (25). Porém, de acordo com o diretor do FMI, o documento vai mostrar um crescimento esperado para a economia global em 2011 ligeiramente menor que aquele previsto para o ano passado, entre 3% e 4%.

"As economias emergentes têm representado o principal driver para a expansão da economia global no cenário pós-crise: a forte demanda doméstica - influenciada por uma política acomodativa e elevado fluxo de investimentos vindos do exterior - potencializou uma recuperação robusta, até mesmo proporcionando algum impulso às economias desenvolvidas", revelou.

Por outro lado, Lipsky destacou que os países com economias mais avançadas estão sustentando seu crescimento apenas em um patamar moderado, com alguns casos de avanços econômicos tão fracos que não são capazes de reduzir os elevados níveis de desemprego de forma significativa.

Por conta disso, o membro do FMI avaliou que as perspectivas de crescimento da economia global seguem ameaçadas por riscos não-triviais como as preocupações acerca da sustentabilidade fiscal na Zona do Euro, bem como a falta de progresso na formulação de planos de consolidação fiscal de médio prazo em várias economias desenvolvidas, além dos elevados níveis dos preços da commodities e dos alimentos.

O que vem agora?
Para Lipsky, diante do atual cenário macroeconômico global, é preciso que haja cooperação entre os principais países do globo, sejam desenvolvidos ou emergentes, a fim de que consigamos dar novo ritmo ao avanço global, beneficiando a todos.

O diretor do FMI destacou que as recentes manchetes colocam em xeque as medidas e acordos entre os membros do G-20 a fim de encontrar uma solução sustentável à economia do planeta. "Minha visão é decididamente mais positiva do que as manchetes. O processo de uma cooperação global permanece vivo e importante, mesmo que as características de uma recuperação desnivelada estejam tornando este processo mais complexo e desafiador", disse Lipsky.

Na análise do diretor do FMI, a tarefa mais urgente para as economias desenvolvidas é acelerar o reparo e reestruturação dos sistemas financeiros, além de se comprometerem a um plano de consolidação fiscal. Já para os emergentes, Lipsky avalia que eles devem manter sob controle as pressões de superaquecimento, enquanto se beneficiam das menores taxas de juros e, para alguns, do avanço nas receitas com exportação de commodities.

"Muitos países precisam recalibrar as políticas macroeconômicas para que a demanda e a produção não superem os recursos disponíveis", explica Lipsky.

Alto fluxo de capital externo nos emergentes
Outro ponto de relevância destacado pelo diretor do FMI é o elevado fluxo de capital externo que as economias emergentes têm recebido, enquanto os investidores seguem cautelosos acerca de uma recuperação sustentável nos países desenvolvidos. O que a um primeiro olhar parece ser bom, Lipsky destacou que é preciso cuidado: se os emergentes não souberem lidar com todo esse capital externo entrando em suas economias, isso pode ter efeitos negativos no médio e longo prazos.

"A falha em manter o controle macroeconômico e financeiro pode ser desastroso em particular para algumas economias emergentes, aquelas com déficits nas contas externas, uma vez que o fim repentino do fluxo de capital estrangeiro por qualquer que seja o motivo poderá forçar uma redução abrupta na demanda doméstica", explicou Lipsky.

Neste sentido, o diretor do FMI recomenda que os governos emergentes adotem uma postura mais preventiva a este tipo de contratempo, fortalecendo as medidas macroprudenciais, ajustando as políticas fiscal e macroeconômica e programando reformas estruturais, "que ajudarão a expandir tanto o crescimento potencial quanto a resiliência aos 'choques'", concluiu Lipsky.