segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

OGX, de Eike, perde brilho em 2011 à espera de reservas

A OGX Petróleo e Gás, protagonista de uma das maiores ofertas iniciais de ações (IPO, em inglês) do Brasil e que ficou no foco do mercado em alguns períodos desde o IPO, vem apresentado fraca performance neste início de ano, ficando para trás em relação a outras empresas do setor.

As ações da empresa acumulavam até o fechamento na quinta-feira uma perda de 9,1% em 2011, enquanto o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa paulista, perdeu 2,9%, e a Petrobras operou praticamente estável. A HRT Participações em Petróleo, nova alternativa para o setor, acumula alta acima de 10% no período.

Pessoas que acompanham o setor apontam vários possíveis motivos para o desempenho mais fraco, como o anúncio de um poço não comercial, a possibilidade de uma redução nas reservas riscadas e a indefinição sobre a venda de participações (farm-out) da empresa em blocos na bacia de Campos.

A OGX, que ganhou cerca de 50% em valor de mercado desde o lançamento das ações, em 2008, acredita que a oscilação deste início de ano é típica de especulação e afirma que mantém os planos traçados.

Parte do ganho foi estimulado pelos vários anúncios de descobertas na campanha exploratória da companhia, centrada na bacia de Campos. Também houve o anúncio da descoberta de "meia Bolívia de gás" na bacia do Parnaíba.

Na semana passada, a corretora Socopa divulgou relatório sobre a empresa alertando que as reservas de petróleo e gás poderiam eventualmente ser menores do que o estimado anteriormente. "Na verdade essa é a apreensão do mercado, que as reservas riscadas de fato sejam menores do que se espera", disse Osmar Camilo, autor do relatório da Socopa.

Para agravar o momento desfavorável do papel, o antecipado farm-out com ativos da bacia de Campos, que seria feito com investidores chineses, está demorando para ser finalizado. Parte do mercado avalia que os chineses poderiam estar aguardando o novo relatório da consultoria DeGolyer MacNaughton (D&M), em março, para fechar o negócio.

"Liguei para lá (OGX) e me disseram que não, que não teria um impacto direto porque os interessados nos poços estão fazendo a avaliação em paralelo, e que eles (investidores) estão em contato bem próximo com a empresa, tem acesso aos mesmos dados que a D&M", informou Camilo.

Para o diretor geral da OGX, Paulo Mendonça, os temores do mercado não passam de especulaçãos e não há nenhuma mudança de rumo que justifique uma surra no papel como ocorreu na segunda-feira desta semana, quando chegou a cair mais de 4% durante a sessão.

"No mercado, você sofre influência de especulação e não há nada a fazer. Nós estamos com nosso plano de negócios sendo seguido à risca e as coisas estão saindo melhores do que o esperado", disse Mendonça à Reuters. "A melhor maneira de preservar o valor para o investidor é continuar o plano de negócios, fazer o farm-out e buscar números mais corretos com a DeGolyer".

Com a OGX em sua carteira de recomendações para compra, o próprio analista da Socopa reconhece que mesmo que as reservas não venham como o esperado no próximo relatório, gradativamente poderão ser incorporadas, como ocorre normalmente na indústria do petróleo.

"Eles me informaram que não necessariamente entra tudo no relatório que vai sair agora, o que não foi incluso vai entrar numa nova certificação", explicou, citando como exemplo a Petrobras, que incorporou apenas cerca de 10% do imenso campo de Lula (ex-Tupi) no pré-sal da bacia de Santos em suas reservas de 2010.

Alternativas
Para o UBS, além dessas questões, a saída do executivo Paulo Gouvea do grupo EBX e o anúncio de um poço não comercial na bacia de Santos este ano também motivaram o movimento de venda do papel, que agora tem concorrentes locais no setor.

Em relatório o banco destacou que a empresa parou de anunciar volumes de reservas nas últimas divulgações de descobertas, "e com isso o relatório da D&M se torna cada vez mais relevante como um gatilho ao preço das ações", avaliou.

Para o analista da SLW Corretora Eric Scott, além desses fatores o mercado agora tem outras ofertas que podem estar concorrendo com a OGX. "Pode estar tendo uma troca por HRT e também gente saindo para entrar na reserva da Queiroz Galvão", avaliou Scott.

A Queiroz Galvão Exploração e Produção, braço do grupo de construção no setor petroleiro, fará uma oferta pública inicial na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) que pode levantar R$ 2,3 bilhões. "Não sei se é troca, se é o laudo esperado, mas tá chegando o tom de compra no papel", disse, referindo-se ao preço mais atrativo após as perdas e sinalizando que alguma recuperação no curto prazo é possível.