quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma pequena lista das coisas que podem atrapalhar a bolsa em 2011

Albert Edwards, do Société Générale: relação P/L do mercado americano indica sobrevalorização e risco de queda

Na manhã do último dia 6, comecei a fazer uma lista de todas as coisas que poderão perturbar os mercados em 2011. Às 10h30 a lista tinha 11 itens - e eu nem cheguei a aventar a possibilidade de os governos ocidentais enfrentar uma crise de financiamento ou a possibilidade de um novo choque nos preços do petróleo.

Minha lista começou com a grande possibilidade de a economia chinesa aterrissar com um certo solavanco: o país precisa adotar medidas políticas para lidar com a inflação, e medidas políticas sempre acabam em lágrimas. Em seguida, a lista passou para os problemas na Europa. Será que a Grécia vai sair da união monetária? Será que a Alemanha vai sair? Será que todos vão sair? Há também a inflação motivada pelos preços dos alimentos provocando intranquilidade em todo o mundo.

Em seguida, veio o colapso do governo de coalizão do Reino Unido - algo que, pelo menos no país, seria uma má notícia para a redução do déficit fiscal e desse modo uma má notícia para as taxas de juros e o crescimento da economia.

E há também a guerra. Pense na Coreia. Ou no Irã. Ou Paquistão. Depois, vieram os preços das moradias. Por enquanto, eles estão sendo mantidos com habilidade no Reino Unido, pelo que Peter Warburton, da Halkin Services, chama de "desincentivo extremo para os vendedores venderem, a não ser quando forçados a isso". À medida que a soma do que eles podem conseguir por seu patrimônio mais precioso cai, eles recuam e o mercado se fortalece, mantendo as coisas meio que estáveis, pelo menos em termos nominais. Mas os vendedores não terão essa escolha para sempre - os três Ds (death, divorce e debt; ou seja, morte, divórcio e endividamento) não permitirão.

Riscos piores persistem no mercado imobiliário britânico. Graham Turner, da consultoria GFC Economics, prevê outra queda nos preços nos Estados Unidos como o maior risco de 2011. Está havendo um aumento desagradável no "estoque de execuções" (o número de cidadãos que estão tendo suas hipotecas executadas) e uma queda no número de moradias que estão sendo compradas, agora que os Estados Unidos pararam de oferecer créditos fiscais aos compradores. Sem mais apoio do governo, há grandes chances de os preços caírem mais, levando a mais calotes, algo que, por sua vez, "derrubaria muito os preços das ações de bancos". A crise de crédito de 2007/2008 não acabou, diz Turner.

Coisas deprimentes, não? Tentei dar uma alegrada no dia com uma nova lista, com coisas que poderão continuar estimulando os mercados de ações este ano. Essa foi mais difícil de fazer - em parte porque agora que a recuperação ocorre há cerca de 18 meses e a capacidade de surpresas positivas é bem menor do que antes. Mas também porque os mercados globais de ações não estão baratos.

Conforme observa Albert Edwards, do Société Générale, numa relação preço sobre lucro (P/L) ciclicamente ajustada, o mercado americano continua bastante sobrevalorizado. Portanto, a menos que desta vez seja realmente diferente (e eu seria capaz de apostar que não é), podemos esperar uma reversão para pior em algum momento.

Não devemos nos esquecer, conforme observa Edwards, que embora a história dos últimos 130 anos tenha sido extraordinária e pavorosa - a morte de impérios, o nascimento de nações, períodos de desregulamentação, períodos de regulamentação, guerras mundiais, revoluções, pragas e avanços tecnológicos e medicinais enormes -, "nenhum desses eventos teve importância do ponto de vista do valor". A média de longo prazo do P/L continuou na maior parte do tempo a mesma.

Diante de tudo isso, você ficará surpreso em ouvir que não estou entrando em 2011 particularmente otimista. Em vez disso, continuo muito satisfeito em ter ações de empresas dos países desenvolvidos. Não estou preocupado com a valorização no curto prazo. Até agora, o P/L continua sendo praticamente o único indicador de longo prazo confiável sobre os retornos dos mercados de ações. Mas ele dificilmente tem grande serventia para qualquer um no curto prazo. Portanto, embora precisemos observá-lo, não precisamos entrar em pânico toda vez que ele começa a piscar para nós.

Mas os verdadeiros motivos que tenho para continuar no mercado são dois: o afrouxamento quantitativo ainda está conosco, proporcionando um bom colchão de liquidez para todas as classes de ativos, e a inflação - embora em alta - continua no nível certo. Está alta o suficiente para manter as pessoas nas aplicações de curto prazo e alta liquidez: 3% a 4% é muita coisa a se perder todos os anos em termos reais, e as taxas de juros lamentavelmente baixas sobre as contas de depósito a prazo, juntamente com os rendimentos lamentavelmente baixos dos bônus do governo, não podem compensar os investidores da mesma maneira que os dividendos sólidos.

Diante disso, Tim Price, da PFP Wealth Management, afirma que "as perspectivas para as ações de alta qualidade" em 2011 são tão boas quanto o que podemos lembrar. Mas tudo isso poderá mudar de rumo: a inflação somente é boa para os mercados de ações se não for alta o suficiente para amedrontar. Quando ela começa a aumentar muito rapidamente, os mercados de bônus ficam com medo, os rendimentos sobem e as ações tendem a definhar.

Isso poderá muito bem acontecer em algum ponto de 2011. Estive no Natal com Adam Ferguson, autor do best-seller "When Money Dies: The Nightmare of the Weimar Collapse" e perguntei a ele se, em razão do afrouxamento quantitativo, ele ficaria surpreso em ver uma inflação de dois dígitos no Ocidente nos próximos anos. "Nem um pouco", disse ele.

O fato do livro de Ferguson estar vendendo como pão quente nos diz que ele não é o único que pensa assim. Mas isso ainda não aconteceu. E isso torna a continuidade dos investimentos uma estratégia perfeitamente razoável por enquanto.