quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nova alta dos preços do petróleo: um risco para a retomada econômica

De Francesco FONTEMAGGI (AFP)

PARIS — O novo aumento dos preços do petróleo, caso se confirme,
representa um risco para a retomada econômica mundial, no momento em
que as economias industrializadas estão convalescentes e a inflação
torna-se um fator de preocupação para países ricos e emergentes.

Já em alta nas últimas semanas, o barril do bruto, empurrado pelas
tensões no Egito, ultrapassou em Londres o teto simbólico dos 100
dólares - um nível a que não chegava há dois anos. Tal situação pode
fazer a felicidade das nações produtoras, mas não das que usufruíam,
em 2010, da estabilidade das cotações em torno de 70 ou 80 dólares.

"Preços elevados do petróleo representam séria ameaça para a retomada
econômica", porque agravam a inflação "principalmente nos países em
desenvolvimento", prevê o Centre for Global Energy Studies (CGES).

Os economistas analisaram o impacto do custo do ouro negro no
crescimento: um aumento das cotações acarreta um crescimento da
inflação que repercute na produção e no transporte e, então, nos
preços ao consumidor.

Isto afeta o poder de compra dos lares que, em contrapartida, vão
exigir salários mais elevados, provocando efeitos inflacionários.
Paralelamente, recuam o consumo e o investimento, tornando mais lenta
a atividade econômica.

Segundo os economistas do Deutsche Bank, um salto de dez dólares no
preço do barril amputa o crescimento americano em meio ponto
percentual.

Na França, um estudo dos economistas Muriel Barlet e Laure Crusson faz
referência a uma "melhor resistência ao choque do petróleo" desde o
começo da década de 1980. Isto se explica por "uma política energética
ambiciosa para reduzir a conta-petróleo" e uma política monetária
rigorosa para evitar "as espirais inflacionárias".

No entanto, revela o estudo, o impacto negativo sobre o crescimento é
mais marcado "durante períodos nos quais as conjunturas nacional e
internacional são mais negativas", o que é o caso atual.

As economias americana e europeia tentam virar definitivamente a
página da recessão histórica de 2009.

Ora "se a inflação continua a subir", os bancos centrais serão
tentados a ajustar os parafusos "aumentando as taxas de juros",
explica Ben May, da Capital Economics. "Isto agravaria principalmente
a situação dos países fragilizados da Zona do Euro, que penam para
sair da recessão".

Os riscos são também elevados nos países emergentes.

Primeiro porque o crescimento vigoroso já se traduz, entre eles, por
um aumento da inflação. A alta das cotações do bruto pode, então,
entre estes grandes consumidores de matérias-primas, acarretar uma
aceleração dos preços.

Além disso, "as economias emergentes estão ainda mais dependentes do
petróleo que as dos países mais ricos, em razão de sua estrutura
industrial", revela Philippe Martin, professor de Ciências Políticas
em Paris.

As autoridades monetárias poderiam também intervir com firmeza para
evitar o superaquecimento, principalmente na China. E uma redução da
atividade chinesa se traduziria em menor crescimento mundial.

De qualquer forma, um barril a 100 dólares, mesmo se não for
considerado o ideal para os países consumidores, fica bem abaixo dos
147 dólares atingidos em 2008.