quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Esta é uma péssima hora para comprar um imóvel, garante especialista

O professor de finanças da Escola de Economia da FGV-SP Samy Dana afirma que há uma bolha imobiliária no Brasil e que a tendência é de queda nos preços

Por Geovana Pagel


A trajetória de alta no preço dos imóveis segue em ritmo acelerado no Brasil. Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (26/10) pelo Ibope mostra que o preço médio do metro quadrado de imóveis novos na cidade de São Paulo cresceu 85% desde 2009. O estudo incluiu outras três capitais: Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre.

Entre abril e outubro deste ano, a variação em São Paulo foi de 14%. Em valores atualizados, o preço médio do metro quadrado na capital paulista ficou em R$ 6.019. No Rio de Janeiro, o índice avançou 18% chegando a R$ 6.000. No Recife, que também registrou alta de 18%, o preço médio do metro quadrado chegou a R$ 4.074. Em Porto Alegre, a alta foi de 11% no período. Resultado: o preço médio do metro quadrado na capital gaúcha ficou em R$ 4.501.

Diante do resultado, surge a grande pergunta: este é um bom momento para comprar imóveis? O professor de finanças da Escola de Economia da FGV-SP Samy Dana é categórico em afirmar que "esta é uma péssima hora para comprar um imóvel".

Segundo ele, a alta não tem condições de se sustentar. "Tenho convicção de que há uma bolha imobiliária. Os preços estão absurdos. O metro quadrado em regiões nobres de São Paulo chega a custar entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. Na periferia, o preço reduz porque não há metro quadrado para fins comerciais e há oferta de espaço muito maior", explica. De acordo com Dana, uma das maiores altas ocorre na região da Paulista que divide a região dos Jardins e do centro da cidade, onde um apartamento de 100 metros quadrados custa em média R$ 1 milhão.


Vale o investimento?

O analista explica que ao se comprar um imóvel como investimento deve-se pensar em sua taxa de retorno, conhecida também como taxa de aluguel, que pode ser expressa como o valor do aluguel sobre o preço do imóvel, por exemplo, se o imóvel tem o valor de R$ 200 mil e o aluguel vale R$ 800, a taxa de aluguel é de 800/200 mil = 0,40%.

"Essa taxa é, mesmo com o mercado extremamente aquecido, bastante baixa, como os dados simples e de fácil acesso podem mostrar. Ao entrar em sites de anúncios de imóveis, percebe-se que essa taxa de retorno alcança, para imóveis novos, valores próximos de 0,35% em bairros nobres de São Paulo", diz Dana.

"Considerando que o CDI, o ativo livre de risco brasileiro, remunerou 0,90% em setembro e a poupança, aplicação com o menor retorno no Brasil, paga 0,5% mais TR, por que um investidor racional investiria em um mercado com risco significativo e baixa liquidez, como o imobiliário, para conseguir um retorno menor ao de aplicações praticamente sem risco?", questiona o especialista.

Além disso, alerta Dana, na compra de um imóvel deve se considerar que se vai pagar mais 6% de escritura e gastos com reforma ou acabamento, no caso de imóveis comprados na planta. "Além disso, se comprar na planta, o tempo que o imóvel ficar parado é o mesmo que o dinheiro, que poderia estar investido, vai ficar parado também", observa.

O efeito Copa

A confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014 também contribui para o aquecimento do mercado imobiliário. Mas, até que ponto essa alta será sustentável? "As pessoas esperam que haverá um milagre na Copa. Mas não vai. O Brasil ainda tem muitos problemas estruturais", diz.

"Acredito que os preços devem começar a cair em breve. O País parece um canteiro de obras e quando tudo isso estiver pronto, vai aumentar a oferta e os preços serão reduzidos. Além disso, se a Europa quebrar, alguns bancos europeus vão quebrar junto, a recessão mundial vai aumentar e pressionar a baixa dos preços", aposta.