quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Blocos econômicos no modelo tradicional estão saindo de moda

Brasil Econômico

ENTREVISTA MARCOS TROYJO
- Professor da Universidade de Columbia e diretor do BRICLab

"Blocos econômicos no modelo tradicional estão saindo de moda"
 


Para Marcos Troyjo, lentidão do Mercosul e enfraquecimento da União Europeia são exemplos de que o modelo está em xeque


A Universidade Columbia, fundada em 1754 em Nova York, inaugurou recentemente o BRICLab, um centro de estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China. O BRICLAb examinará a influência crescente dos quatro países no cenário mundial através da combinação de cursos de pós-graduação, programas executivos, estudos e conferências. O BRICLab foi fundado e é dirigido pelo brasileiro Marcos Troyjo e pelo francês Christian Deseglise, ambos professores adjuntos de Columbia.

O Brics é uma construção, assim como outros blocos, mas por que este pode ser mais interessante aos interesses do Brasil do que o Mercosul?
O Brics é um fórum de consultas composto por Brasil, Rússia, Índia, China e, desde 2011, a África do Sul. Não é uma organização internacional. Tampouco um bloco econômico com modalidades de livre-comércio. Longe disso. Os interesses são muito distintos. Não enxergo aprofundamento no Brics como bloco. Estão dando os primeiros passos para a construção de consensos quanto a direitos humanos, meio ambiente, paz e segurança internacionais, regras para o comércio internacional, atuação conjunta na ONU ou OMC, etc. Aliás, na morosidade do Mercosul e no enfraquecimento da União Europeia, temos exemplos de como os blocos econômicos estão saindo de moda. Há um renascimento do Estado-Nação como ator preponderante da cena global.

Por que a universidade de Columbia decidiu abrir um centro para estudar países com visões tão distintas?
Brasil, Rússia, Índia e China têm US$ 4,5 trilhões em reservas. Dá para comprar 80% das empresas negociadas na Nasdaq. Seu PIB conjunto já é equivalente à economia dos EUA ou da Europa. Dentre esses quatro países há dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia e China), três detentores de armas nucleares (Rússia, Índia e China), duas enormes democracias representativas (Índia e Brasil), potências energéticas (Rússia e Brasil), etc. Estudar as convergências e divergências desses quatro gigantes, que estão numa liga verdadeiramente à parte, faz todo sentido.

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"Estudar as convergências 
e divergências desses quatro gigantes, 
que estão numa liga 
verdadeiramente à parte, 
faz todo sentido"

Quais as principais ações para consolidar o grupo? 
Mesmo que não se tornem um bloco, a ideia de BRICs é um "conceito-em-construção". É muito importante que esses países fiquem se comparando aos demais o tempo inteiro. O êxito de cada país que compõe esta sigla na economia política do século XXI resultará de quatro perguntas: Qual é seu projeto nacional? Como perseguirá seus objetivos num mundo interdependente e conflituoso? Como está se preparando para a economia digital do conhecimento? Que sacrifícios está disposto a fazer? Se quiserem atuar como grupo, e assim influenciar em maior medida as relações internacionais, terão de construir visões e ações articuladas na busca de seus interesses. 

Por Regiane Oliveira