terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Para uma Educação Nota 10

Marcos Troyjo, Diretor do BRICLab da Columbia University e professor do IBMEC
Brasil Econômico

Tenho estudado comparativamente os sistemas de educação de países como Coreia do Sul, China, EUA, Cuba, Argentina, Rússia e Brasil. Aqui, de forma resumida, seguem algumas conclusões.

Educação hoje é retomar sua etimologia em latim. Educar (educere) é liderar, extrair o melhor que cada um tem dentro de si. Ensinar é conduzir alguém a que possa construir sua "sina", seu destino. Educação é um meio para enfrentar uma época permeada por novas tecnologias; um "ar do tempo" de competição, incertezas e oportunidades.


Já venceu a validade de 3 velhos paradigmas:

O primeiro: Educação como ingresso seguro no mercado de trabalho. Com a desterritorialização, os "home offices" e a competição transfronteiriça, diplomas ou símbolos tradicionais não são necessariamente diferenciais.

O segundo: Educação como aprimoramento de uma carreira linear. As carreiras tornaram-se sinuosas, com superposição de profissões e disciplinas;  aparecimento e desaparecimento de profissões. Processos rotinizáveis são "desumanizados" e substituídos por software. Diminuem tarefas cada vez mais monótonas. A previsibilidade dá lugar à criatividade.

 O terceiro: Educação como certeza de desenvolvimento de uma nação. Argentina, que começou o século 20 como uma das 4 mais elevadas rendas per capita no mundo, União Soviética e Cuba destinaram grandes orçamentos (em porcentagem de seu PIB) à Educação. Sem empreendedorismo e vasos comunicantes com empresas e o mercado, ficaram para trás na corrida pela prosperidade.


Mais do que nunca, Educação hoje se guia por 3 palavras-chave:

- Pertinência (todo o conhecimento é válido, mas há uma hierarquia baseada nas necessidades de um país ou empresas);

- Atualidade (é estonteante a velocidade com que conhecimentos emergem e outros tornam-se obsoletos), e

- Aplicabilidade (não há incompatibilidade entre teoria e prática, mas o conhecimento teórico tem de visar a uma intervenção na realidade).


Surgem portanto 3 novos paradigmas:

O primeiro: Educação é a forma de lidar com a transfiguração do mundo do trabalho, o que requer especializações do tipo "antes da curva" (que privilegia a tendência sobre a experiência; a lógica dos "early-adopters", velozmente aliados a áreas de ponta.

O segundo: Educação como convite à "Reinvenção Serial". Não se contentar com rotulações como "engenheiro", "administrador", "psicólogo". Saber que temos constantemente de nos reinventar.

O terceiro: Educação como combustível ao empreendedorismo, seja de natureza criativa (com rupturas e inauguração de novos nichos) ou evolutiva (com aprimoramento de setores recém-criados ou já consolidados).


Para enfrentar esses novos paradigmas, os parâmetros para a sociedade brasileira são:

- Educação é uma tarefa de responsabilidade compartida entre indivíduo, família,  empresa e governo.

- Métodos quantitativos são compulsórios mesmo para as mais abstratas ciências humanas.

- Incutir desde a mais tenra idade uma forma "econômica" de pensar (introjetar a relação custos-recompensas).

- Conhecimento de culturas e civilizações estrangeiras.

- Alimentar o talento naquilo que não pode ser rotinizável.

- Aprender a aprender sozinho.

- Aumentar o investimento do PIB em Educação de 5% para 10% e  de 1% para 2,5% em Ciência & Tecnologia.

- E, acima de tudo, elevar o Professor à categoria de herói.