terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sete passos para um plano de contingência

Nuno Fernandes, professor de finanças do IMDA 

Em cinco de dezembro, a Standard & Poor's alertou sobre um possível rebaixamento de nota em massa para 15 países da zona euro, incluindo seis com nota AAA (Alemanha, França, Áustria, Holanda, Finlândia e Luxemburgo). Isto seria impensável apenas um ano atrás.
 
Acredito que o euro sobreviverá e não haverá grandes transtornos nos próximos meses. Até vejo uma provável resolução, em janeiro de 2012, das incertezas atuais; contendo medidas de curto prazo (como uma garantia maciça ou provisão de liquidez pelo Banco Central Europeu) e de médio prazo (como uma consolidação fiscal e iniciativas de competitividade).
 
No entanto, líderes empresariais precisam saber que há uma ameaça real do colapso do euro, em que vários países da zona euro voltariam às suas antigas moedas (o tal risco da redenominação). Alguns gestores preferem ignorar esse problema e dizer que não têm plano de contingência se houver colapso, o que é simplesmente má gestão de risco. Mesmo se a falência for improvável, as consequências podem ser gravíssimas.
 
Vimos isso recentemente. Muitas diretorias e empresas foram pegas de surpresa pelo colapso do Lehman Brothers e o congelamento dos mercados de crédito, o que precipitou uma recessão em todo o hemisfério ocidental.
 
Empresas devem blindar seus acionistas para que não sejam negativamente surpreendidos por uma crise ameaçadora. Elas não devem ignorar os piores cenários possíveis que, apesar de improváveis, podem ser devastadores. Sendo você um gerente sênior, quais medidas deve tomar para se preparar para um possível colapso do euro?
 
No mínimo, você tem de analisar as consequências jurídicas de um colapso da zona euro para contratos comerciais transfronteiriços. No geral, o impacto não seria extremamente negativo, já que algumas empresas se beneficiariam de 'hedges naturais'.
 
Além dos impactos diretos, as empresas deveriam considerar diversas outras implicações do risco de redenominação. Devem tomar medidas para controlar não somente as exposições diretas, mas também as indiretas, e não devem apostar todas as fichas em uma única ação.
 
 
Eu recomendaria os seguintes sete passos como base de um planejamento de contingência seguro:
 
 
1) Lidando com a crise da liquidez. Empréstimos entre bancos caíram bastante este ano e um colapso do euro deixaria a liquidez ainda mais pressionada. A questão é se a crise de crédito se espalhará para além da Europa. Você há de considerar os balanços ao redor do mundo - está preparado para financiar suas operações para os próximos 12 meses, sem ter acesso a crédito bancário ou mercados de títulos? Muitos de seus empréstimos e títulos também podem ser ligados à avaliação de sua empresa, ou mesmo para a nota soberana do país de sua empresa. Você consegue sustentar o financiamento ininterrupto de suas operações caso essas ligações sejam interrompidas?
 
2) Foque em investimentos que podem protegê-lo na crise. Algumas empresas estão mais bem posicionadas do que outras - se você gerar mais da metade de suas vendas fora da Europa, por exemplo em mercados emergentes, estará mais seguro. Tenha planos de contingência que permitam centrar-se em seu core business e minimizar desvios. Lembre-se: quando todo mundo está vendendo, não é hora para ser vendedor!
 
3) Certifique-se de que tem um balanço patrimonial forte e gerencie vencimentos de sua dívida. Se você tiver que rolar uma quantidade substancial de dívida nos próximos meses, quais medidas deve tomar se houver um agravamento econômico, levando a um congelamento completo dos mercados de crédito?
 
Você deve garantir um fluxo ininterrupto de fundos para continuar suas operações.
 
4) Gerencie a exposição ao câmbio. Se você for exportador para a zona euro, quais procedimentos têm para lidar com a incerteza cambial? Reconsidere programas hedge de moeda. Com países abandonando o euro, veremos desvalorizações maciças (30% a 60%), resultando em produtos importados caríssimos. Se não fizer nada, pode significar que seus lucros, quando convertidos em moeda comum, podem cair consideravelmente. No entanto, muito cuidado com o hedging do mercado de derivados. Grande parte do mercado de CDS provavelmente não servirá como hedge. De fato, após o recente corte de 50% sobre a dívida grega, debenturistas ainda reclamam que é um "evento de crédito" que deve levar ao pagamento nos termos do contrato CDS. A questão ainda não está resolvida, mas infelizmente há pressões políticas para acabar com a validade do CDS como ferramenta de crédito/cobertura.
 
5) Incorpore a reconversão de moedas em seu planejamento estratégico. Para exportadores, isso tem implicações enormes no balanço. Esperar o melhor não é mais viável. O que você vai fazer se houver uma desvalorização maciça (em relação ao dólar, libra, franco suíço ou iene) das moedas (re)adotadas pelos países da zona periférica depois de abandonar o euro? Seus sistemas de pagamento estão prontos para uma mudança de moeda no faturamento e, consequentemente, alterações nos fluxos de caixa?
 
6) Cuidado com a cadeia de suprimentos. Pequenas empresas podem sofrer desproporcionalmente se dependerem de exportações para o continente europeu. Atenção também às finanças de seus fornecedores e, quando possível, tente trabalhar com eles em oportunidades que seriam boas para ambos.
 
7) Avalie como uma recessão prolongada na Europa afetaria seu balanço. Certifique-se de alocar reservas de caixa em investimentos seguros e de controlar gastos não essenciais. Considere também uma economia fraca e restrições sobre os gastos dos consumidores que possam resultar da crise. Padrões de consumo não serão mais os mesmos.
 
Uma boa gestão de risco significa antecipar cenários improváveis. As chances de um colapso europeu são pequenas, no entanto, as consequências podem ser devastadoras, e você não quer ser pego de surpresa.