quarta-feira, 21 de março de 2012

Poupança é a opção para o curto prazo

Por Marcelo d"Agosto, Valor Econômico

 
 O Banco Central (BC) declarou sua intenção de reduzir a taxa Selic para o patamar de aproximadamente 9% ao ano e que pretende, depois disso, manter os juros estabilizados. Assim, os investimentos na caderneta de poupança voltaram a ser uma excelente alternativa para as aplicações de curto prazo.

Tudo indica que será necessária uma ampla reformulação nas regras de todas as aplicações financeiras para que as taxas de juros no Brasil caminhem, finalmente, para níveis civilizados. A eliminação do piso de 0,5% ao mês para a remuneração da poupança é apenas um dos vários assuntos que precisam ser enfrentados para que o país consiga praticar juros de um dígito de forma consistente.

Inflação elevada, crises persistentes nas contas externas e descontrole dos gastos públicos moldaram a atual estrutura do mercado financeiro brasileiro. O principal objetivo sempre foi o de oferecer proteção contra possíveis perdas decorrentes da instabilidade econômica.

Os aplicadores desenvolveram exagerada preferência pelos investimentos de curto prazo e com liquidez diária, além de indexados às altas taxas de juros, à inflação ou ao dólar. Aplicações em ações sempre representaram uma pequena fração da carteira total dos investidores. O governo, por sua vez, fez o possível para administrar a caótica situação, mas sempre preocupado em reservar um espaço cativo para a venda dos títulos públicos federais.

A reserva de mercado para os papéis públicos podia ser conseguida tanto por meio de determinações explícitas quanto indiretamente. Por exemplo, houve um período em que a compra de papéis do Tesouro Nacional para as carteiras dos investidores institucionais era compulsória. E ainda hoje a regulamentação tributária é usada para incentivar as aplicações pelo prazo que o governo considera mais conveniente.

Foi nesse ambiente de incertezas econômicas e regras voláteis que o mercado financeiro brasileiro prosperou. Para o investidor, a principal consequência foi a pouca variedade de aplicações acessíveis, a concentração dos negócios junto aos grandes bancos de varejo e o elevado custo dos produtos financeiros.

Com a redução dos juros, a estrutura do mercado terá que mudar. Os investidores deverão encontrar maior facilidade para comparar as diversas aplicações e ganharão familiaridade com novos produtos oferecidos por diferentes instituições.

Mas esse processo levará tempo. O governo terá que reunir o apoio político para conseguir aprovar uma série de mudanças estruturais para tornar o mercado financeiro mais competitivo.

Nesse meio tempo, os investimentos na caderneta de poupança são um bom refúgio para o investidor que pretende evitar os custos elevados das aplicações financeiras oferecidas pelos grandes bancos de varejo, especialmente nos fundos de investimento e CDBs, nesse último via baixa remuneração.

O passado recente fornece evidências relevantes. Nos pouco mais de nove meses compreendidos entre 23 de julho de 2009 e 28 de abril de 2010, quando a taxa Selic atingiu a mínima histórica de 8,75% ao ano, a taxa referencial (TR), que corrige os depósitos na caderneta de poupança, foi praticamente zero. No período, os investidores na poupança tiveram que se contentar apenas com a remuneração fixa de 0,5% ao mês, equivalente a 6,17% ao ano.

Não foi um retorno ruim. Considerando como alternativa uma aplicação em CDB ou fundo de com rentabilidade bruta de 90% da variação do CDI e incidência de 22,5% de imposto de renda (para aplicação de até seis meses), a remuneração líquida teria sido de 6% ao ano. Ou seja, a tradicional poupança rendeu mais.

Quando os juros atingirem 9% ao ano, a remuneração líquida de IR de uma aplicação de curto prazo com rendimento equivalente a 90% do CDI será de 6,3% ao ano, praticamente o mesmo da poupança.

A caderneta está cada vez mais popular. Nos últimos cinco anos, o estoque de recursos cresceu 120%, apontam os dados do BC. Foram cerca de R$ 100 bilhões decorrentes do crédito de rendimentos e R$ 135 bilhões devido aos novos depósitos.

Usar a poupança para as aplicações de curto prazo também é uma forma de estimular a tomada de decisão para os investimentos de longo prazo. Nenhum investidor bem informado, consciente de que existem opções sofisticadas ao seu alcance, ficará confortável sabendo que seu patrimônio está aplicado da forma mais tradicional que existe.

Hoje, carteiras balanceadas com 20% em ações e 80% em títulos de renda fixa possuem boas possibilidades de retorno atraente no longo prazo, desde que os custos da aplicação sejam baixos e os riscos suportáveis. Enquanto o investidor não ficar convencido dessa alternativa, a melhor saída é manter os recursos na poupança.

Marcelo d"Agosto é economista especializado em administração de investimentos com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro