segunda-feira, 21 de maio de 2012

O risco de “pouso forçado” da China

Raquel Landim

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, afirmou ontem em entrevista a rádio estatal Sunday que o país deve evitar que sua economia desacelere rapidamente. "Evitar que a economia entre em uma tendência de desaceleração, e evitar uma desaceleração muito rápida, é de grande urgência", disse Wen. "Não importa qual seja a política fiscal ou a política monetária, nós não podemos esperar para ver e assim perder o tempo apropriado".

Os comentários do líder chinês impulsionam as bolsas de valores ao redor do mundo hoje, porque aumentam as expectativas de que Pequim adote medidas de estímulo à economia, como corte de juros. O governo chinês vem resistindo a uma intervenção mais forte por receio de cometer o mesmo erro de 2009, quando o estímulo excessivo gerou inflação e aumentou os créditos podres dos bancos estatais.

Ficou claro pelas declarações de Wen que o governo chinês está seriamente preocupado com os múltiplos sinais de desaceleração da economia chinesa. O assunto interessa diretamente ao Brasil. O risco de um "pouso forçado" do dragão asiático já impactou o mercado de commodities, reduzindo os preços de muitas matérias-primas exportadas pelo Brasil, principalmente o minério de ferro.

Nas últimas semanas, uma série de indicadores apontaram uma desaceleração mais rápida que o esperado da economia chinesa, conforme mostramos em matéria publicada no Estadão no domingo. A produção industrial da China avançou 9,3% em abril, abaixo da alta de 11,9% em março e o pior resultado em três anos. A produção de energia, que crescia 7,2% em março, subiu apenas 0,7% em abril.

A indústria chinesa foi afetada por investimentos decepcionantes, particularmente no mercado imobiliário, e pelas exportações mais fracas, abaladas pela crise da Europa. As exportações chinesas cresceram 4,9% em abril, antes 8,9% em março. Os investimentos em residências, que avançavam 15% em março, subiram 4% em abril. Os novos empréstimso bancários, que somaravam 1,01 trilhão de yuans em março, caíram para 682 bilhões de yuans em abril.

De acordo com vários economistas no Brasil e na China ouvidos pelo blog, o que está ocorrendo na China é uma mudança estrutural nas fontes de crescimento. Enquanto o consumo das famílias ganha espaço, recuam os investimentos e o setor externo. "É natural que, em meio a essa transição, haja uma desaceleração do crescimento", diz Mônica Baumgarten de Bolle, sócia da Galanto Consultoria.

Por enquanto, ainda são poucos os analistas que acreditam em "pouso forçado" da China – um cenário que teria forte impacto para o crescimento brasileiro, que já promete ser anêmico este ano. A principal aposta dos analistas é que o governo chinês vai agir a tempo – reduzindo juros e injetando crédito – para facilitar a recuperação da atividade na segunda metade do ano. A conferir.