quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Fed atrela juros próximos de zero à queda do desemprego e lança novo estímulo

Por Pedro da Costa e Alister Bull    (http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE8BB06U20121212)


WASHINGTON, 12 Dez (Reuters) - Em uma decisão surpreendente, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, disse nesta quarta-feira que vai manter quase zeradas as taxas de juros até que o desemprego norte-americano recue para menos de 6,5 por cento, lançando também uma nova rodada de compra de bônus para estimular a economia.

O Fed disse que seu comprometimento em manter os juros constantes até que essa nova meta seja atingida durará enquanto as projeções de inflação não superarem 2,5 por cento para um ou dois anos no futuro e enquanto as expectativas de inflação continuarem contidas.

O Fed, que revisou para baixo suas projeções de crescimento econômico e inflação para o próximo ano, substituiu um programa de estímulo mais modesto que vence no final do ano por uma nova rodada de compra de treasuries, papel do Tesouro norte-americano.

"O comitê ainda teme que, sem afrouxamento suficiente, o crescimento econômico pode não ser forte o bastante para gerar melhora sustentável nas condições do mercado de trabalho", afirmou o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed em comunicado.

Autoridades do Fed se comprometeram a comprar mensalmente 45 bilhões de dólares em treasuries, além da aquisição mensal de 40 bilhões de dólares em ativos hipotecários que a autoridade monetária começou a realizar em setembro, como esperado pelos mercados financeiros.

Sob o programa "Operação Twist", que expira no final deste mês, o Fed estava comprando 45 bilhões de dólares em Treasuries com prazo mais longo com os recursos captados na venda de dívida com prazos mais curtos.

A nova rodada de compra de ativos pelo governo anunciada nesta quarta-feira será financiada essencialmente por meio da criação de mais dinheiro, expandindo o portfólio de 2,8 trilhões de dólares do Fed.

Membros do Fed aprovaram o programa por 11 votos a 1. O presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, se opôs à decisão, como fez em todas as reuniões do Fomc neste ano, expressando oposição tanto em relação às compras de bônus quanto contra as novas metas econômicas.

As ações ampliaram ganhos e os preços de títulos de longo prazo do governo norte-americano caíram após o anúncio do Fed.

"Eles veem uma economia anêmica, e eles estão fazendo tudo que podem para conseguir progresso econômico", disse o presidente do Alan B. Lancz & Associates, Alan B. Lancz.

O Fed notou em seu comunicado que o desemprego se mantém elevado e que a inflação está abaixo do objetivo de 2 por cento.

Autoridades também repetiram uma promessa de continuar a comprar bônus até que as perspectivas para o mercado de trabalho melhorem significativamente.

Uma queda na taxa de desemprego para 7,7 por cento em novembro, frente aos 7,9 por cento registrados em outubro, foi gerada sobretudo por trabalhadores que deixaram a força de trabalho, e, portanto, não chegou perto de satisfazer essa condição.

MIRANDO A RECUPERAÇÃO

O Fed praticamente zerou as taxas de juro em dezembro de 2008 e comprou cerca de 2,4 trilhões de dólares em bônus em esforços para reduzir os custos de financiamento e desencadear uma recuperação mais forte da economia dos EUA.

Apesar dessas tentativas agressivas e não convencionais, o crescimento econômico norte-americano segue morno. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou a uma taxa anualizada de 2,7 por cento no terceiro trimestre, mas parece agora estar desacelerando de forma acentuada.

Segundo levantamento da Reuters divulgado nesta quarta-feira, economistas esperam que a economia registre expansão de apenas 1,2 por cento no último trimestre do ano.

O setor corporativo adotou uma postura defensiva, temendo um arrocho na política fiscal à medida que políticos em Washington debatem possíveis soluções para evitar uma combinação de 600 bilhões de dólares em aumentos de impostos e cortes de gastos que passam a valer automaticamente no início de 2013.

Bernanke alertou que essa combinação, conhecida como abismo fiscal, levaria a economia a uma nova recessão.

Ao estabelecer metas para ajudar a guiar sua decisão de quando, eventualmente, elevar os juros, o Fed acabou descartando a previsão anterior de que os custos de financiamento continuariam quase zerados até pelo menos meados de 2015.

Autoridades não se mostraram confortáveis em definir a política monetária com base numa data do calendário, e esperam que a nova estrutura ajude a guiar os mercados financeiros a avaliar dados econômicos de maneira a auxiliá-los a medir corretamente o provável enfoque futuro da política monetária.

"Alcançar as metas não vai imediatamente desencadear uma redação no afrouxamento da política monetária", disse o presidente do Fed, Ben Bernanke, em coletiva de imprensa para explicar a decisão do Fed. "Nenhum indicador individual oferece uma avaliação completa do estado do mercado de trabalho, e portanto nós vamos considerar mudanças na taxa de desemprego dentro do contexto mais amplo das condições do mercado de trabalho".

A prática anterior de fixar um ponto de finalização para seus programas foi criticada por alguns economistas, que viam nisso uma mensagem de que o Fed espera que a economia permaneça fraca até a data definida.

Em uma nova série de estimativas econômicas, o Fed sugeriu que a taxa de desemprego não recuará para menos de 6,5 por cento até algum momento em 2015, e em nenhum momento dentro do horizonte projetado o banco central vê a inflação superando a meta de 2 por cento.

Autoridades mantiveram sua avaliação de que podem eventualmente derrubar a taxa de desemprego para uma faixa entre 5,2 por cento e 6 por cento sem impulsionar a inflação, embora Bernanke tenha alertado que o processo de afrouxamento da política monetária tenha de começar antes de o desemprego atingir níveis tão baixos.

O Fed espera que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA tenha expansão de 2,3 por cento a 3,0 por cento neste ano, frente a estimativa anterior de 2,5 por cento a 3,0 por cento. Ainda é uma projeção mais otimista do que a maioria dos analistas do setor privado. Pesquisa da Reuters mostrou uma estimativa de crescimento de 2,1 por cento no ano que vem.