quinta-feira, 6 de junho de 2013

Competitividade e empresas de base tecnológica

Por Marcos Troyjo
Diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec
Brasil Econômico

Julgar a competitividade brasileira em nível mundial pelas exportações é um bom parâmetro. Nossa pauta de exportações anualizada até abril de 2013 em termos de produtos tecnológicos, manufaturados, semimanufaturados e agrícolas tem sua composição exatamente idêntica àquela que o Brasil obteve em 1978. Dez anos atrás os principais itens da pauta eram os aviões da Embraer. Agora, a agregação de valor regrediu. Ficamos mais 'commoditizados' em nosso perfil exportador. Não estamos fazendo a contento a transição rumo a uma sociedade intensiva em tecnologias. A China está fazendo esta lição-de-casa bem mais eficientemente que o Brasil. 

Como se dá a passagem para o novo mundo das tecnologias inovadoras? Aumentando o percentual que a sociedade e o estado direcionam para a ciência e tecnologia. No momento em que a China ultrapassar os EUA como a maior economia do mundo daqui a 10 anos, os chineses estarão investindo cerca de 2,3% do seu PIB em pesquisa & desenvolvimento. O Brasil como um todo investe apenas 1% de seu PIB em inovação. E se examinarmos este baixo percentual com lupa, essencialmente 80% deste montante vêm de instituições estatais. Se o setor privado brasileiro investe pouco – esfera que possui maior capacidade de traduzir tecnologia em produtos levados ao mercado – o benefício econômico do atual investimento é muito pequeno. 

E por que os empresários brasileiros não investem em tecnologia? Têm de pagar um empregado atendendo a uma das legislações trabalhistas mais medievais e antiquadas do mundo, além de sujeitar-se uma carga tributária de 37% do PIB, enquanto seus concorrentes são submetidos a uma carga bem menor: 23% no México, 26% no Chile e 26% na Coreia do Sul. É claro que temos pessoal e empresas no Brasil que possuem importante capital intelectual, só que esse recurso não é suficiente para a escala dos desafios. 

Como resolver esse problema? Importando talentos, saber e know-how para reunirem-se aos nossos. Assim, por meio de parceria internacional, será possível formar gente para atuar nessas áreas. O Programa "Ciência sem Fronteiras" é interessante, mas a dificuldade do Brasil não é de gerar grandes cientistas, e, sim, de gerar patentes, produtos e tecnologia comercializáveis. Daí o Brasil não ter o seu próprio Instagram, seu Google, ou sua própria Apple.

Uma empresa de alta tecnologia é uma empresa intensiva em talentos tecnológicos. Mas, ao se instalar no Brasil, a empresa vai ter dificuldade de contratar pessoas e lidar com a obtusa parafernália trabalhista e fiscal, a maneira pela qual o Brasil consegue atrair esse tipo de companhia é oferecendo aos empresários grandes contratos governamentais e a perspectiva de que o mercado interno continuará de certa forma protegido. 

A barganha: só empresas que realizarem suas operações em território nacional gozam do acesso a essa proteção. Ou seja, instalam-se no Brasil não por conta da grande competitividade, da qualidade da mão-de-obra, ou do ambiente de negócios que oferecemos aqui. Estabelecem sobretudo uma plataforma de revenda da tecnologia para o próprio mercado interno brasileiro.