quinta-feira, 25 de julho de 2013

Esqueça os bancos e o ouro, o futuro virá das terras

Valor Econômico - 24/07/2013
 
O renomado investidor americano Jim Rogers atraiu as atenções do mundo ao prever que o preço do ouro vai cair abaixo de US$ 900 a onça. Suas palavras têm peso não só pela sua experiência, mas também porque dois anos atrás este gestor aposentado de fundos de hedge, que junto com George Soros fundou o Quantum Fund, acertou ao afirmar que o ouro - que então atingia preços recordes - iria cair para US$ 1.200 a onça. Ele vem alertando repetidamente que o ouro não é uma commodity mística e o verdadeiro fundo do poço não será atingido enquanto aqueles investidores que pensam que ele não pode cair não deixarem o mercado. Rogers está em uma missão para convencer o mundo dos investimentos a olhar com seriedade para a agricultura. Ele explica ao "Financial Times" por que acredita que ela será uma fonte de lucros nos próximos anos.

Por que o senhor acha que os preços do ouro continuarão caindo?

Jim Rogers: O ouro subiu por 12 anos seguidos, o que é extremamente incomum para qualquer ativo e portanto seria uma anomalia se não houvesse uma correção. Sou terrível em detectar o timing do mercado, mas acredito que o ouro vai cair 50% em relação ao pico, o que o levará para cerca de US$ 900. Não estou vendendo ouro no momento, mas, se ele cair, espero ser esperto o suficiente e comprar mais.

Por que o ouro desperta tanta atenção?

Rogers: Não sei dizer, mas sempre tenho a mesma experiência. Quando falo em eventos sobre investimentos, sempre há alguém questionando sobre ouro. Prefiro falar sobre a agricultura.

O que o senhor tem a dizer sobre a agricultura?

Rogers: Penso que dá para ganhar mais dinheiro com a agricultura. Não acho que chegamos ao fundo do poço no ouro, mas estamos perto dele no açúcar. O açúcar registra uma queda de 75% em relação ao pico histórico - não há muita coisa mais no mundo que tenha caído 75%. Acho que a agricultura será uma das profissões mais interessantes nos próximos 20 anos. A idade média de um agricultor nos Estados Unidos é de 58 anos, na Coreia do Sul é de 65. É uma profissão velha e as pessoas que estão nela estão morrendo ou se aposentando. Nos EUA mais pessoas estudam relações públicas do que agricultura. O mundo está enfrentando um grave problema demográfico e de produção. Se nada mudar, não teremos alimentos a qualquer preço. Os preços terão de subir muito para atrair mão de obra e a Organização para Alimentação e Agricultura [FAO, em inglês] está tentando fazer as pessoas enxergarem essa crise. Eles veem o que eu estou vendo. O que mais você precisa saber? As pessoas colocam a culpa nos especuladores, mas isso não é sobre eles - é sobre o fato de que os estoques estão no momento nos níveis mais baixos de que se tem registro na história e, embora tenhamos tido boas safras na última década, a produção não consegue acompanhar a demanda. No passado, se tínhamos problemas com o clima, tínhamos estoques enormes. Mas agora não temos estoques e não temos agricultores.

Por que não há mais interesse nesse setor?

Rogers: Tivemos longos ciclos em que o setor financeiro esteve no comando, seguidos por períodos em que as pessoas que fazem as coisas estavam no comando. Estamos em um ponto intermediário no momento. Quando estava na faculdade [Rogers nasceu em 1942], as pessoas diziam que a City de Londres e Wall Street estavam estagnadas. Agora, os jovens de Oxford querem começar fundos de hedge. Mas os fundamentos mudaram demais. Há muita competição nas finanças e na atividade bancária no resto do mundo, temos uma alavancagem gigantesca no setor e agora todos os governos estão sendo duros com os tipos financeiros. Acho que o setor financeiro será um lugar terrível para se estar nos próximos 10, 20, 30 anos.

O senhor criou o RICI [Rogers International Commodity Index] no fim da década de 1990. Como está investindo em agricultura?

Rogers: Compro principalmente ativos agrícolas. Compro fazendas de capital aberto na Austrália, Indonésia e África. Mas é possível investir em tratores, fertilizantes, sementes. Há muitas maneiras de fazer isso.

Em que o senhor está investindo no momento?

Rogers: Bem, além da agricultura, estou atento ao dólar porque haverá mais turbulências cambiais no futuro e acho que muita gente vai recorrer ao dólar como um porto seguro. A moeda chinesa também continuará forte, assim como o açúcar, que eu já mencionei. Também estou comprando ações de companhias aéreas e estou de olho na Rússia, com a qual tenho sido pessimista desde 1966, mas estou mudando meus pontos de vista sobre ela.

O que o senhor acha do investimento passivo?

Rogers: Há muitos estudos que mostram que o investimento em índices supera 80% dos gestores ativos, de modo que o investimento passivo é a melhor opção para a maioria dos investidores. Se você sabe escolher bem ações, então é lógico que deve fazer isso, mas as evidências são muito fortes e basicamente a maioria das pessoas deveria usar os investimentos passivos.