sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

China: a grande vitoriosa da OMC

Por Marcos Troyjo

Folha de São Paulo


O principal tema acordado na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Bali foi a chamada "facilitação de comércio" (uniformização e otimização de processos aduaneiros).

Trabalho dos economistas Gary Hufbauer e Jeffrey Schott ('Payoff from the World Trade Agenda 2013') serviu como pedra-de-toque no convencimento da opinião pública sobre os benefícios do acordo.  

Segundo o estudo, medidas aprovadas em Bali impactam positivamente o PIB mundial em mais de US$ 1 trilhão ao ano. Geram-se 21 milhões de empregos relacionados a exportações.

Do valor, US$ 460 bilhões repercutirão para os ricos e US$ 570 bilhões para países em desenvolvimento. Dos novos empregos, 3 milhões para desenvolvidos e 18 milhões para o resto do mundo.

Responda então ao seguinte teste de múltipla escolha. Quem saiu de Bali como grande vencedor?  

A) EUA e Europa.
B) Países menos desenvolvidos. 
C) Brasil.
D) A própria OMC.
E) Nenhuma das alternativas.

Se você respondeu 'A', saiba que EUA e Europa privilegiam negociações plurilaterais, não a OMC. Costuram entre si a Aliança Transatlântica, que integrará as duas regiões com maior PIB do mundo. 

Se 'B', note que o principal entrave a países com renda per capita anual inferior a US$ 1 mil não é o comércio. Em O Fim da Pobreza, Jeffrey Sachs demonstra que os obstáculos são desequilíbrios ambientais e climáticos, doenças e a extrema pobreza em si. A ajuda internacional incrementa mais a acumulação de capital e a renda familiar do que a facilitação alfandegária. Dos supostos 21 milhões de novos empregos, apenas 1 milhão vai para a África Subsaariana, onde se encontra o maior número de nações pobres.

Se 'C', o ganho é ver um brasileiro tirar a OMC do imobilismo. Pergunte a um exportador o que mais lhe ajuda a fazer negócios. Ele lhe dirá que melhores condições tributárias, trabalhistas, logísticas, cambiais, de financiamento e promoção de exportações precedem, em importância, medidas aprovadas em Bali. Além disso, o acordo vale para todos. Não há benefício específico para o Brasil.

Se 'D', é claro que a OMC ganha sobrevida, mas sua efetividade é comprometida pela lentidão. Decisões por consenso fazem a organização mover-se com freio-de-mão puxado. O "Pacote de Bali" representa apenas 10% do estipulado há 12 anos em Doha. Nessa velocidade, os 90 % restantes consumiriam 108 anos. A Rodada se concluiria em 2121. Àquela altura, a OMC será um fóssil e o comércio regido por organização interplanetária.

Se 'E', você acertou. Medidas de facilitação de trânsito beneficiam mais quem anda de carro todo dia. Da mesma forma, aquelas que uniformemente impulsionam o comércio favorecem as grandes nações comerciantes. Dos novos empregos gerados por Bali, 60% irão para o Sudeste Asiático, justamente por ser a região mais dinâmica do comércio internacional.

 E qual país é o maior exportador global e detém mais de 30% do PIB e das exportações do mundo em desenvolvimento? Resposta: a China. Ela é a grande – e silenciosa – vencedora da OMC.