terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Tesouro Direto se torna alternativa para os pequenos aplicadores

Calil: "Comprar um título público seria tão fácil quanto comprar um livro"

Por Carlos Vasconcellos
Valor
 
Implantado em 2002 pelo Tesouro Nacional, o Tesouro Direto abriu ao pequeno poupador interessado em investir diretamente em títulos públicos, operação antes limitada aos bancos e a grandes investidores institucionais. Em 11 anos, a modalidade tornou-se uma boa opção para quem quer fugir das taxas de administração cobradas nos fundos de renda fixa tradicionais, com segurança e boa rentabilidade.

O número de investidores cadastrados chega a quase 370 mil, e cresceu 15% entre outubro de 2012 e outubro deste ano. Nesse mesmo período, o estoque de recursos investidos no Tesouro Direto chegou a R$ 10,72 bilhões, com alta de 16,12% em 12 meses. A maior parte está concentrada em pequenas aplicações: 67,9% correspondem a investimentos de até R$ 5 mil.

O programa de investimento direto em títulos públicos para pessoas físicas foi desenvolvido pelo Tesouro Nacional em parceria com a BM&FBovespa. Nele, o próprio investidor escolhe prazos e indexadores dos títulos que deseja comprar, e também pode agendar suas aplicações regularmente, com antecedência.

"No momento, trata-se de uma opção bastante interessante, pois os juros voltaram a subir", avalia Nelson de Souza, professor de finanças do Ibmec -RJ. "Papéis que acompanham os juros, como as LFTs, estão dando resultado muito superior ao de qualquer fundo de renda fixa que ofereça 100% do CDI. Além disso, o Tesouro Direto é um investimento seguro e que permite aplicações em prazos variáveis. Hoje, há títulos disponíveis com prazo até 2050." Hoje, 46,8% dos papéis do estoque do Tesouro Direto têm vencimento de um a cinco anos. Com prazo de 5 a 10 anos estão 27,1% dos títulos, e 26,1% com mais de 10 anos.

A relativa popularização do Tesouro Direto se explica pelo baixo tíquete mínimo necessário para o investimento: 10% do valor do título mais barato disponível, obedecendo ao limite financeiro mínimo de R$ 30. O investidor receberá os rendimentos da aplicação até o vencimento da aplicação, data do resgate do título, quando os recursos são depositados na conta do dono do papel com o rendimento combinado.

Há opções pré-fixadas, pós-fixadas e também papéis atrelados a índices de inflação. Estes últimos oferecendo taxas de 6% a 6,5% acima do IPCA. "São boas opções no longo prazo, pois dão uma boa rentabilidade, protegida da inflação", avalia Souza.

Caso o investidor precise resgatar o título antes, os papéis também podem ser negociados antes do vencimento, sempre às quartas-feiras, por seu valor de mercado do dia. Nesse caso, é preciso tomar cuidado para não perder dinheiro. "As perdas podem ser altas, porque os papéis sofrem variações diárias", alerta Souza. "O ideal é aguardar o vencimento do título."

O rendimento é tributado no vencimento, com alíquotas de 15% se o prazo da aplicação for superior a 720 dias. As taxas de intermediação cobradas por bancos e corretoras variam de zero a 2%. Mas é preciso levar em conta outros fatores além da taxa. "Algumas instituições não cobram a taxa, mas cobram um valor fixo por transação. Se você vai movimentar pouco os papéis até o vencimento, talvez valha a pena", observa o economista Gilberto Braga, especialista em finanças pessoais.

Os especialistas consideram o investimento uma modalidade segura, mas alertam para a elevação da dívida pública. "Num horizonte de médio prazo, não há risco, mas esse é um fator a ser levado em conta para quem comprar papéis com vencimentos mais longos, para 2035 ou 2050", diz Souza.

Mauro Calil, da Calil & Calil Centro de Estudos e Formação do Patrimônio, acredita que a burocracia é um entrave pior que as taxas de intermediação. "Se o mecanismo do Tesouro Direto fosse mais amigável o governo poderia se financiar com a poupança da classe média", diz.

Para Calil, permitir a compra de títulos por cartão de crédito seria um meio simples de tornar o investimento mais popular. "Comprar um título público seria tão fácil quanto comprar um livro ou um CD no varejo on-line", diz. "Os cartões não repassam o valor integral da compra, é verdade, mas o Tesouro poderia negociar uma taxa de remuneração adequada com as administradoras", conclui.