sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Combatendo o ‘novo normal’

O 'novo normal' reside no imobilismo da contribuição relativa que cada país oferece ao produto mundial 

Por Marcos Troyjo

  
No rescaldo da grande crise financeira de 2008, economistas usaram letras para simbolizar qual seria a trajetória de recuperação da economia global.
 
Para os otimistas, o movimento se daria em "V". Após acentuada queda, expansão de mesma forma exuberante que caracterizou parte dos anos 90 e o ciclo dourado das commodities até a hecatombe do Lehman Brothers. Passado o dilúvio, "business as usual".
 
Para outros, mais realistas, o formato seria o "W". À Grande Recessão de 2008 seguiriam espasmos eufóricos sucedidos por novas contrações -- como se levou a crer com a pronunciada crise das dívidas soberanas europeias em 2011, de que a Grécia foi paradigma.
 
Para os que torcem pelo malogro da economia de mercado, 2008 e sua posteridade marcavam um "Y". Finanças globais abraçariam "setores reais" da economia num mergulho vertiginoso -- o fim ao capitalismo como o conhecemos. Estaria aberto o caminho para projetos de economia e sociedade radicalmente alternativos, o que não se via desde o esfacelamento do socialismo real na década de 80. 
 
Superada essa ou aquela ilusão, o olhar prevalecente que se lança agora sobre os últimos seis anos -- perspectiva dominante a ponto de converter-se em cliché -- é a de que a economia global encontra-se num "novo normal".
 
Sua forma é a de um "L": derrocada da expansão do PIB mundial até o ponto de estabilização num patamar medíocre. De agora em diante, os países devem resignar-se a operar numa "banda estreita" de crescimento que não permite grandes alterações de status econômico.
 
Países ricos, sem brilhantismo, continuarão com PIB per capita superior a US$ 35 mil. Emergentes verão congelada sua esperança de alcançar níveis de renda dos mais avançados. Nesse imobilismo da contribuição relativa que cada país oferece ao produto mundial residiria o "novo normal".
 
Essa narrativa, que dominou a reunião anual do FMI e do Banco Mundial mês passado, é um baita convite à inércia. Oferece aos governantes a desculpa de que "há pouco a fazer".
 
O fato é que a maioria dos países da OCDE -- EUA e Reino Unido à parte --, continuam a organizar-se de modo a que o welfare state leve à competitividade e inovação, e não o contrário.
 
Latino-americanos, com recente exceção dos países da Aliança do Pacífico, pouco fizeram pela modernização institucional de sua economia política. A "anormal" arremetida chinesa nos últimos 15 anos ajudou a mascarar a falta de estratégia para um período "normal" de menor apetite global por commodities.
 
Interessante atentar para o debate que hoje se trava na China sobre o combate ao "novo normal".  Os chineses enxergam que o risco de uma fase de menor crescimento global não é vitimizar-se na "armadilha da renda média".
 
Perigo maior é atolar no que chamam de "armadilha latino-americana".  Entendem pela expressão o combinado de populismo, urbanização caótica e, sobretudo, "voos de galinha" no crescimento econômico resultantes da ausência de reformas estruturais. Não parece familiar?