domingo, 4 de janeiro de 2015

2015 pertencerá ao G2

Recuperação dos EUA e 'extroversão' chinesa influenciarão quem ganha e perde no cenário mundial
  
Por Marcos Troyjo


Para navegar as águas da globalização em 2015, a bússola delimita duas principais referências. A reemergência dos EUA e a "grande extroversão" da China.  Esses pontos cardeais terão enorme influência sobre quem ganha e perde com a nova trama mundial.

Após período de hibernação -- rescaldo da Guerra ao Terror e epicentro da crise financeira de 2008 --, os EUA estão voltando com tudo. A economia e as empresas norte-americanas recobraram a saúde. Robustos resultados contábeis propulsionam recordes no Dow Jones. O xisto permite-lhe posição privilegiada no panorama energético. Isso é ainda mais realçado com o enfraquecimento de adversários -- como Rússia, Irã e Venezuela -- que padecem com o preço declinante do barril de petróleo. 

A maré de capitais reflui para os EUA com a normalização dos juros praticados pelo FED. Ao contrário do que se supunha, o período restante de Obama na Casa Branca será de intensa diplomacia. Surpresas como o entendimento climático com a China ou a reaproximação com Cuba estarão na ordem do dia. A principal barreira a uma maior projeção global dos EUA não virá do exterior, mas do próprio Congresso dominado pelo Partido Republicano. É ele que pode retardar tratados econômicos com a Europa ou mesmo a ambiciosa parceria de comércio e investimentos no Pacífico.

A China também deseja alçar voos mais altos. 2015 representa prova de fogo para a "grande extroversão" chinesa. Nos últimos 35 anos, Pequim pilotou projeto nacional em que o tema da prosperidade prevaleceu sobre iniciativas de poder ou influência. Na medida em que a China caminha firme para tornar-se o maior PIB do mundo daqui a uma década, a economia do país mergulha no valor agregado e na inovação. Explode o número de depósitos internacionais de patentes. Aumentam os experimentos de conversibilidade internacional do renminbi. 

Pequim moderniza suas forças armadas. Costura parcerias estratégicas em energia com os russos. Transfere cada vez mais plantas industriais para a África e também para sua vizinhança geoeconômica asiática. A dupla necessidade chinesa de internacionalizar e baratear seu parque produtivo casa à perfeição com o programa "Make in India", capitaneado pelo primeiro-ministro Narendra Modi na atração de empresas. 

O protagonismo no âmbito dos BRICS, com a sede do Banco de Desenvolvimento em Xangai, será complementado pela liderança chinesa na nova agência para financiamento de infraestrutura na Ásia.

Os vigorosos movimentos de EUA e China diminuem espaço relativo e leque de opções para atores na Europa, América Latina e África. A Ásia, por seu turno, é o palco privilegiado da competição entre as duas superpotências econômicas. Os países que mais ágil e habilmente adaptarem sua política exterior, comercial e industrial a esse cenário do "G2" apresentarão maior chance de sucesso.

Com tais balizamentos, e na sequência de anos de progressiva perda de brilho no exterior, o Brasil terá de redefinir seu lugar no mundo.