quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Maior mal do Brasil não é corrupção, mas falta de estratégia

Ainda que os brasileiros virassem anjos, isso bastaria para o desenvolvimento?

Por 
MARCOS TROYJO


Os atuais níveis de contração da economia brasileira estão equiparando-se aos dos abissais anos 1930.

Àquela época, Hitler e Mussolini davam as cartas na Europa fascista. 

O Japão nutria o ambicioso sonho expansionista mediante o militarismo imperial. 

Os EUA encontravam-se no rescaldo do crash de 1929. Era o tempo da Grande Depressão, do interstício entre as duas grandes guerras.

No Brasil, os longos estertores do modelo da monocultura de exportação, e sobretudo do ciclo do café, ainda eram percebidos. 

A incipiente industrialização do país dava os primeiros passos. 

O Brasil era rudimentar.

Os cenários interno e –particularmente– o externo em que o Brasil amargava aquela recessão eram comparativamente bem mais complexos do que os atuais. 

Tratava-se, no plano nacional, de resgatar o país de um sonolento primarismo. 

Era lidar, no plano internacional, com um mundo mergulhado em abismo que a muitos tragou –e a todos impactou.

Hoje, com todas as suas mazelas, o Brasil é a oitava maior economia do mundo e o segundo maior mercado emergente. 

Apesar de todo o ambiente adverso, logramos marcada competitividade no agronegócio e mesmo em setores intensivos em tecnologia, como a indústria aeronáutica.

Em 2015, embora ainda em marcha lenta, a economia global está crescendo. 

Entre os 50 mais importantes mercados, apenas quatro apresentarão uma desaceleração mais profunda: Rússia, Ucrânia, Venezuela e Brasil.

Diante desse quadro, ecoa a pergunta: "por que o Brasil vai tão mal?". "Qual nosso maior problema?".

O Datafolha captou recentemente a percepção da sociedade: os brasileiros apontam que o grande problema do país é a corrupção.

Ainda assim, por eticamente odiosa e economicamente corrosiva que seja, a corrupção não é a maior das agruras nacionais. 

O principal percalço do Brasil é a falta de estratégia.

Viver num país em que corruptos vão para a cadeia é importante. Trabalhar em prol de uma nação em que se faz justiça, tanto melhor.

A Operação Lava Jato, como histórico divisor de águas para uma nova compreensão da "res publica", tem de ser amplamente saudada. 

Seguramente, uma nova era de transparência e lisura está em gestação. Haverá imensos bônus de aperfeiçoamento institucional.

Imagine, porém, que os heroicos condutores da Lava Jato dispusessem de varinhas mágicas para transformar todos os brasileiros em anjos. Isso bastaria para pavimentar o caminho do país ao desenvolvimento?

Sim, é claro, trata-se de uma substancial tarefa de "terraplenagem" institucional. Parcela importante do Judiciário parece estar fazendo sua parte.

Nosso resgate nacional, contudo, carece de horizontes que se sobrepõem à restrição do espaço de manobra disponível a malfeitores.

O Brasil está à procura de um plano econômico que vá além da contenção de despesas. 

De uma diplomacia que faça mais do que discursar contra as imperfeições do sistema internacional. 

De um pacto de elites que permita ao país algum consenso nas reformas estruturais. 

De um líder, ou grupo de líderes, com competência técnica, sentido patriótico e visão de futuro.

Corretamente, muitos têm indicado, utilizando-se de exemplos como as perdas da Petrobras, que a incompetência traz mais danos que a corrupção. 

Uma das consequências é que hoje nossa petroleira estatal contabiliza um valor de mercado menor que o do Uber, o aplicativo de caronas pagas.

Também é verdade, no entanto, que o deficit estratégico é mais danoso do que a incompetência. 

E o Brasil precisa desesperadamente de uma estratégia de país para lidar com o capitalismo competitivo do século 21.