terça-feira, 16 de março de 2010

Qual é a melhor aposta no setor de mineração, MMX ou Vale?

Por: Julia Ramos M. Leite
InfoMoney


Apesar de ainda líder isolada no setor de mineração nacional, a Vale (VALE3, VALE5) tem visto os ativos da MMX (MMXM3) avançarem no Ibovespa, despontando como um possível contraponto à mineradora no setor. Depois de um 2009 ruim, ambas desfrutam de boas perspectivas, apoiadas da expectativa de alta dos preços do minério de ferro. Mas qual a melhor empresa para se expor ao setor atualmente?

Ao lado da Petrobras, a Vale está nas listas de preferência de quase todos os analistas do mercado, alternando com a estatal a liderança das listas mensais de recomendações. É também popular entre investidores novos, que buscam segurança. Já a MMX chama a atenção por sua expressiva valorização recente e constante mídia em torno das empresas do grupo EBX, de Eike Batista.

Em 2010, os papéis preferenciais da Vale mostravam alta de 10,66% até o pregão do dia 15 de março, sendo cotados a R$ 46,70. Enquanto isso, os ativos da MMX continuam subindo, mesmo depois de terem liderado as altas do Ibovespa no ano anterior. Os ativos da mineradora já acumulam valorização de 35,69% desde janeiro, sendo cotados a R$ 13,59 (fechamento de 15 de março).

Quando consideramos a variação do preço dos ativos nos últimos 365 dias, a diferença é ainda maior: os papéis da Vale mostram alta de 80,83% no período, pouco acima dos 76,91% do Ibovespa, enquanto os ativos da MMX subiram impressionantes 460,46%.

Mas apesar de importantes, os movimentos das ações sozinhos não são suficientes para determinar qual das duas empresas é a melhor opção de investimento atualmente.


Resultados 2009

Em 2009, os resultados da Vale decepcionaram os analistas, que ressaltaram os menores volumes, a valorização do real e uma inesperada e significativa elevação nos custos. O balanço do quarto trimestre foi particularmente fraco, com um Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) bem abaixo das projeções.

Os números da MMX, reportados na última sessão, seguiram pelo mesmo rumo. Os analistas Marcos Assumpção e Alexandre Miguel, da Itaú Corretora, enfatizaram o fato de o Ebitda ter totalizado desempenho negativo de R$ 70 milhões no trimestre, abaixo das estimativas de R$ 18 milhões. Aqui também pesaram os gastos mais elevados do que o esperado nos custos dos bens vendidos e nas despesas com vendas, administração e gerais.


Perspectivas 2010: preço do minério de ferro em foco

Vale: alta do minério de ferro deve puxar 2010
O mau resultado visto em 2009, contudo, não deve se repetir neste ano. De maneira geral, os analistas mantêm uma visão bastante positiva para o segmento, que deve impulsionar os balanços de ambas as empresas. “O ano de 2010 vai ser muito diferente de 2009, que foi um ano muito fora da curva para todas as empresas envolvidas na cadeia do aço”, afirma Pedro Galdi, da SLW Corretora.

O principal driver para o ano deve ser a alta dos preços do minério de ferro. “A expectativa é um déficit de 5% de minério de ferro no mundo em 2010. O preço mercado spot está 100% acima do preço de contrato, o que nos leva a concluir que vai haver um aumento de preço muito significativo esse ano”, afirma Galdi. Com expectativa de alta de 40% nos preços do minério de ferro, Tony Robson, do BMO, projeta o lucro da Vale em US$ 8,4 bilhões em 2010, e US$ 12 bilhões no ano seguinte.

Além disso, segundo Galdi, a Vale fez investimentos expressivos durante a crise, enquanto muitas mineradoras se viram pressionadas e tiveram que vender ativos. “Com essa demanda mais forte, a Vale vai conseguir ampliar os volumes vendidos com um preço melhor, e a geração de caixa do negócio de minério de ferro será muito melhor do que em 2009”.

MMX: mais desafios à frente
Entretanto, o caminho parece mais complicado para a MMX. Para Gilberto Cardoso, do Banif, a empresa deve buscar um melhor equilíbrio da estrutura de balanço, visando a retomadas dos investimentos para expansões. “O aumento do volume de vendas de minério de ferro, aliado à alta dos preços, deve dar fôlego para a companhia tocar não só o dia a dia, mas também o projeto de expansão”, afirma Cardoso.

A alta do minério de ferro também deve beneficiar a companhia. “As projeções para 2010 ainda mostram um resultado modesto (lucro líquido de R$ 18 milhões), mas em 2011 seus resultados começam a aparecer (lucro líquido de R$ 130 milhões)”, afirma Ricardo Martins, gerente de pesquisa da Planner – que ressalta, contudo, que os resultados ainda são “insuficientes”.

“As duas vão ter um bom desempenho, mas lembrando que a Vale vende por ano 300, 320 milhões de toneladas de minério de ferro, e a MMX não deve chegar a 10 esse ano”, conclui Galdi.


Vale ou MMX?

De acordo com os analistas consultados pela InfoMoney, a resposta é uma só: Vale. Considerando os fundamentos das empresas, além do movimento das ações nos últimos meses, todos eles optam pela blue chip.

O tamanho da Vale pesa nas recomendações. “A grande vantagem dos papéis da Vale em relação à MMX é sua representatividade em termos de mercado. Ela é a grande referência do setor”, afirma Martins, que aponta ainda a qualidade de seu minério de ferro, que associado ao tamanho de suas jazidas, lhe garante amplo poder de barganha nas negociações e formação do preço benchmark.

Galdi, por sua vez, destaca que a logística da Vale é muito forte e traz um ponto de vantagem, assim como sua maior exposição às variações do preço do minério de ferro. Em relação à MMX, Galdi afirma que os papeis do Grupo EBX têm como característica fortes flutuações nos preços. “A MMX já está refletindo o reajuste de minério. A Vale não vai ter essa valorização tão rápida, porque não tem esse perfil especulativo. Não que a cotação da MMX vá desabar, mas eu prefiro estar na Vale do que em uma empresa que está apenas começando”, aponta Galdi.

Cardoso também aponta a forte suscetibilidade dos ativos da MMX a fatos pontuais – o que não acontece com as ações da Vale. “A MMX está baseada no longo prazo, na perpetuidade. Ela não gera caixa no presente, então é muito impactada por fatos – o que traz mais volatilidade. É um papel com um risco maior e um retorno maior”.

Os analistas da Itaú Corretora, assim como Cardoso, ressaltam ainda que a forte valorização dos papéis da MMX deve trazer movimentos mais amenos para os ativos em 2010. “As perspectivas estão mais focadas na execução real e tomada mais decisiva das expansões e aumento de capacidade”, afirma Cardoso. Com isso, o analista também opta pelos ativos da Vale, que, em sua opinião, estão melhor precificados, têm melhores fundamentos e menor exposição ao risco.

Robson, por sua vez, destaca que, para o investidor estrangeiro, a Vale não se compara à MMX. “A Vale é a maior produtora global de minério de ferro, e, entre as mineradoras, é a segunda maior do mundo em termos de capitalização de mercado. A MMX, por sua vez, só vale alguns bilhões de dólares. A única semelhança, desse ponto de vista, é que são as duas do mesmo setor”, afirma.

Para ele, a decisão do investidor estrangeiro não é sobre comprar Vale ou MMX, mas sim Vale ou BHP ou Vale ou Rio Tinto. “Acho que os investidores estão tentando comprar a companhia que oferece melhor acesso às variações do preço do minério de ferro, o que no caso é a Vale”. Entretanto, Robson afirma que os múltiplos indicam que os papéis da Vale estão mais caros do que de suas peers globais – o que faz com que o BMO tenha uma recomendação de “manutenção” aos ADRs (American Depositary Receipts) da mineradora, com preço-alvo de US$ 30.


Riscos e recomendações

Apesar das perspectivas positivas, ambos os papéis apresentam riscos que devem ser levados em conta pelos investidores. Para Cardoso, os principais riscos dos papéis da Vale estão atrelados ao caminhar da negociação de preços de minério de ferro. “Ajustes menores do que os que estão sendo precificados pelo mercado, ou riscos de retomada mais cautelosa no mercado de aço podem arrefecer a demanda por commodities no mundo, especialmente na China e mercados mais maduros, que têm uma recuperação mais tardia, como EUA e europeus”. Entretanto, Martins ressalta que a desaceleração da China é um evento improvável.

A MMX, por sua vez, tem os mesmos riscos – além de riscos de execução dos projetos de expansão. Galdi, contudo, ressalta que operacionalmente, os riscos da MMX já são quase nulos. “A entrada de recursos do sócio chinês trouxe tranquilidade”, afirma.

Confira as recomendações para VALE5
Instituição RecomendaçãoPreço-alvo
Banif Em revisão -
Itaú Corretora Outperform R$ 58,00*
Planner Compra R$ 52,50
SLW Compra R$ 57,37
BMO Manutenção (ADR) US$ 30









Confira as recomendações para MMXM3
InstituiçãoRecomendaçãoPreço-alvo
Banif Em revisão -
Itaú Corretora Outperform R$ 17,00**
Planner Neutro R$ 14,90
SLW Manutenção R$ 13,99***
BMO

-

R$ 13




* em relatório de 11 de fevereiro
** em relatório de 15 de março
*** segundo analista, preço é o consenso de mercado