quinta-feira, 4 de março de 2010

Setor imobiliário vive novo boom de ofertas de ações

Por Vivian Pereira

A perspectiva de um ano favorável para a economia brasileira, combinada às obras do programa "Minha Casa, Minha Vida" e à realização futura da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Brasil, serviu de gatilho para uma nova safra de ofertas de ações de empresas de construção no Brasil. O elevado número de empresas ligadas ao ramo imobiliário com capital aberto --mais de duas dúzias na Bovespa-- não deve inibir um movimento superior ao registrado em 2009 em termos ofertas iniciais (IPO, na sigla em inglês), retomada de processos de abertura de capital interrompidos pela crise e venda de ações por empresas que já estão na bolsa (follow-on).

"O principal fator multipilicador dessas ofertas é que o mercado imobiliário residencial está muito forte e carrega junto a necessidade por estrutura comercial", disse à Reuters o presidente do Secovi-SP, sindicato que representa o setor imobiliário na capital paulista, João Crestana.

Segundo ele, é esse movimento que está impulsionando a ida de empresas de shopping centers e infraestrutura à bolsa.

"Não vejo qualquer indício de bolha. Pelo contrário, as empresas estão se estruturando, fortalecendo e atendendo a demanda, que hoje está tremendamente maior que a oferta."

Na quarta-feira, a Sonae Sierra Brasil, empresa de shopping centers, pediu registro à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para seu IPO, em uma oferta primária. Os principais sócios da companhia são a norte-americana Developers Diversified Realty e a portuguesa Sonae Sierra.

Dias antes, a WTorre Empreendimentos Imobiliários informou que apresentou à CVM o pedido de registro de oferta pública inicial primária e secundária de ações da companhia.

Para Crestana, a possibilidade de novas fusões e aquisições no setor este ano também não significa uma contramão para novas ofertas. "Há espaço para ambas estratégias e não me surpreenderia se mais 10 empresas do setor lançarem ações este ano."

O analista Eduardo Silveira, da Fator Corretora, acredita que a primeira onda de consolidação do setor já aconteceu em 2009, referindo-se à incorporação da Tenda pela Gafisa e à criação da Agre, resultado da união entre Abyara, Agra e Klabin Segall.

"As empresas estão aproveitando o bom momento do mercado, especialmente para investidores estrangeiros", observou Silveira.

A opinião é compartilhada pelo analista Flávio Conde, da Gradual Investimentos, que não considera o movimento excessivo. "A demanda nacional é muito grande e há espaço para novas ofertas (de ações do setor imobiliário)", afirmou. Contudo, ele destacou que agora "o investidor só está mais seletivo".

Menos otimista, a equipe de análise da Brava Investimentos avalia a ida desenfreada à bolsa como um risco no longo prazo, dada a incerteza quanto a uma nova onda de consolidação entre as construtoras. Para a gestora, muitas empresas listadas de um mesmo setor acabam por confundir os investidores.

No ano passado, nove empresas de construção civil ou shoppings centers fizeram ofertas de ações na Bovespa que, juntas, movimentaram quase sete bilhões de reais.

Em 2007, primeiro boom de empresas imobiliárias na Bovespa, foram 23 ofertas, totalizando 14,5 bilhões de reais, de acordo com dados da bolsa.

ANO COMEÇA FORTE

Em janeiro, a Aliansce Shopping Centers estreou na Bovespa com uma oferta primária e secundária. O preço da ação saiu abaixo da faixa estimada pelos coordenadores: investidores aceitaram pagar 9 reais, enquanto o intervalo sugerido ia de 10 a 13 reais. A empresa já tinha tentado, sem sucesso, abrir o capital em 2007.

A exemplo da Aliansce, a WTorre está retomando o processo de abertura de capital iniciado naquele mesmo ano, cancelado na ocasião por condições de mercado desfavoráveis.

No mês passado, a incorporadora Inpar levantou 280 milhões de reais com uma oferta primária e a rival PDG Realty ganhou novos acionistas, depois que o principal sócio da empresa vendeu em uma oferta o equivalente a quase 30 por cento do capital da empresa.

Estão em andamento, ainda, as ofertas da BR Properties (IPO) e da Gafisa (follow-on), cujas fixações de preço estão previstas para esta quinta-feira e o próximo dia 23, respectivamente.