terça-feira, 9 de novembro de 2010

Medo de calote na UE volta à cena e derruba euro frente a moedas globais

Olli Rehn ficará dois dias em Dublin para discutir o plano elaborado pelo governo para cortar seus gastos e aumentar os impostos em até € 6 bilhões em 2011

O euro caiu pelo segundo dia seguido ontem em relação ao dólar por causa dos temores de que alguns governos da região terão dificuldades para pagar suas dívidas que aumentaram, o que reduziu a demanda por seus ativos, ao mesmo tempo em que a Irlanda abre suas contas para funcionários da União Europeia.

A moeda europeia teve a maior queda em uma semana em relação ao iene, após o rendimento extra exigido por investidores para ter em seu poder títulos da dívida irlandesa, em vez da alemã, atingiu um nível recorde. O franco suíço chegou ao patamar mais alto em duas semanas contra o euro, depois do anúncio de que a taxa de desemprego do país caiu. O iene e o dólar subiram ante todas as outras moedas mais negociadas.

"Os problemas na Europa começam a mostrar a cara novamente e poderão se intensificar", disse Blake Jespersen, diretor de câmbio do Bank of Montreal em Toronto. "Essa poderá ser a ponta do iceberg para o euro - ele poderá cair para menos de US$ 1,35 e até mesmo para US$ 1,30. Os problemas da Europa são muito maiores que aquilo que o mercado embutiu nos preços até agora."

Ontem, às 19h45 (de Brasília), a moeda comum europeia era negociada a US$ 1,320 em queda de 0,80% frente o dólar. O euro chegou a cair 1,2% em comparação ao iene, igualando a queda de 29 de outubro, antes de ser negociado a 112,85 ienes, em queda de 1% sobre os 114,03 registrados em 5 de novembro. O dólar caiu 0,1% para 81,16 ienes, contra 81,26 ienes na sexta-feira.

A diferença nos rendimentos, ou spread, entre os bônus irlandeses de 10 anos e os bunds alemães de vencimento similar aumentou para o recorde de 550 pontos-base, ou 5,5 pontos percentuais.

O spread dos bônus de 10 anos de Portugal sobre os bunds aumentou para 434 pontos-base, o maior desde pelo menos 1997, dois dias antes da intenção do país de vender até € 1,25 bilhão (US$ 1,74 bilhão) em título de dívida. Portugal é outro país que se esforça para reduzir o déficit fiscal.

Operadores de contratos futuros reduziram suas apostas de que o euro voltará a ganhar força diante do dólar, segundo mostram números da Commodity Futures Trading Commission de Washington. A diferença no número de aposta pelos fundos de hedge e outros grandes especuladores sobre um avanço do euro, comparado às apostas de queda - as chamadas net longs - era de 38.610 em 2 de novembro, ante net longs de 40.505 uma semana antes.

A tendência de alta de 40 anos do iene acabará em um recorde de cerca de 72 ienes por dólar no ano que vem, segundo previsão da Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities Co., baseada nos padrões de negociação. A previsão está embasada em análise desenvolvida pelo contador Ralph Nelson Elliott durante a Grande Depressão, chamada Elliott Wave, que diz que as oscilações do mercado seguem uma estrutura previsível de cinco estágios. O iene está entrando no estágio final em comparação ao dólar, afirma a corretora.

"O iene terá uma alta final contra o dólar por volta do primeiro semestre do ano que vem", diz Naohiko Miyata, principal analista técnico da corretora do maior grupo bancário do Japão.

Os líderes do G-20 reúnem-se quinta e sexta-feira em Seul, para discutir a promessa feita no mês passado de evitar uma "desvalorização competitiva" de suas moedas. O franco subiu pelo quinto dia em relação ao euro ontem, ganhando 0,5% para 1,3429, depois chegar a 1,3407, o maior nível desde 21 de outubro.

A taxa de desemprego da Suíça caiu de 3,7% em setembro para 3,6% no mês passado, ajustada às oscilações sazonais, informou ontem o Secretariado de Estado para Assuntos Econômicos em Berna. É o menor nível desde maio de 2009 e dentro da previsão média de nove economistas consultados pela "Bloomberg". A taxa de desemprego não ajustada ficou em 3,5%.

"O franco é um grande vencedor quando os investidores buscam um porto-seguro, o iene continuará sendo e, até certo ponto, o dólar também", diz Kathy Lien, diretora de análises de câmbio da operadora de câmbio online GFT Forex de Nova York. "Os maiores focos de atenção esta semana estarão nas dificuldades na zona do euro e na reunião do G-20."

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos Timothy F. Geithner, disse ontem em Nova Delhi que a China precisa continuar permitindo a valorização de sua moeda, acrescentando que a segunda maior economia do mundo vem "apoiando bastante" o modelo do G-20 para a redução dos desequilíbrios globais.

Geithner disse a jornalistas e Kyoto, no Japão, dois dias atrás, que os EUA vêem o "dólar forte" como um interesse do país e "nunca vamos usar nossa moeda como instrumento para ganhar vantagem competitiva."

Planejadores econômicos vêm alertando que a decisão tomada pelo Federal Reserve de injetar dinheiro no sistema financeiro americano adquirindo US$ 600 bilhões em título do Tesouro vai deprimir o dólar e estimular fluxos de recursos para mercados emergentes, ameaçando criar uma bolha nos preços dos ativos.

"Com o pano de fundo dos desequilíbrios globais, teremos um cenário em que haverá uma diversificação para longe do dólar", disse Stephen Gallo, diretor de análises de mercado da Schneider Foreign Exchange em Londres.

Olli Rehn, comissário de Assuntos Econômicos e Monetário da União Europeia, era esperado ontem em Dublin para discutir cortes nos gastos e aumento de impostos. Rehn ficará dois dias em Dublin, depois que o governo irlandês elaborou um plano na semana passada para cortar seus gastos e aumentar os impostos em até € 6 bilhões em 2011. A chanceler alemã Angela Merkel disse na semana passada que os detentores de bônus europeus deverão dividir os custos de uma eventual reestruturação, em vez dos contribuintes ficarem numa situação difícil.