segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cenário indefinido de 2011 dificulta trabalho de gestores

Jennifer Hughes | Financial Times


Fazer previsões é um negócio perigoso. Ao elaborar as suas para 2011 para gerentes de vários fundos de pensão, um grupo de economistas do Citigroup identificou um grande salto na inflação como o maior risco que os investidores enfrentariam. O segundo maior risco seria a deflação.
"O problema", segundo Gerard Lyons, diretor de análises globais do Standard Chartered, "é que os fundamentos econômicos deveriam estar bem definidos, mas parece haver muita discordância sobre quais são eles."
Lyons atribui ao papel central que está sendo exercido por políticos e banqueiros centrais nos mercados, toda a incerteza sobre o que o próximo ano trará. Com os governos sendo os maiores motivadores dos preços dos ativos, e com os Estados Unidos, Europa e países da Ásia enfrentando desafios diferentes, as previsões se tornam ainda mais enganosas.
"É possível construir muitos cenários bastante diferentes e verossímeis para o ano que vem", diz Lyons. "Dentro desses, os chamados 'tail risks', ou cenários extremos, não podem ser descartados." Advertências como essas à parte, um certo tipo de cenário "baseado em casos" está emergindo em todos os relatórios elaborados pelas equipes de análises dos bancos de investimento. A visão consensual é de que a recuperação da economia mundial continuará, com alguma pressão inflacionária, mas não o suficiente para forçar os bancos centrais dos EUA, Europa e Japão a reverter suas políticas monetárias superfrouxas.
Para as ações, isso provavelmente é uma boa notícia. De fato, um cenário otimista foi abraçado pela equipe do Morgan Stanley na Europa que cuida de ações, que acredita que um maior crescimento ajudará o índice MSCI Europe a subir 11%, para 1.250 pontos, no ano que vem. Mas não será um caminho sem percalços: o relatório do banco tem o título "Sacolejante, mas melhor que os bônus."
Do outro lado do Atlântico, John Lynch, principal estrategista do Wells Fargo, prevê que o índice S&P 500 vai subir para 1.300 pontos até o fim de 2011, dos cerca de 1.200 pontos previstos para o fim deste ano - um ganho de 8%.
"Estamos ligeiramente sobreposicionados em empresas de grande capitalização de mercado, em detrimento das de pequena capitalização, e também estamos sobreposicionados em ações de empresas com potencial de crescimento, em detrimento daquelas com ações que apresentam preços baixos", diz Lynch. O perigo é que a fraqueza do nível de emprego está levando os investidores a reduzirem suas expectativas de lucros para as empresas.
O otimismo de Lynch é pálido perto do otimismo dos analistas do Goldman Sachs, que acreditam que o S&P 500 poderá chegar aos 1.450 pontos, uma alta de 23%, no fim do ano que vem, impulsionado pelos baixos custos dos empréstimos, pela inflação baixa e a continuidade do crescimento dos lucros.
Essa é uma de uma série de previsões otimistas dos estrategistas dos bancos, que estão baseando suas expectativas em mais um ano de crescimento acima da média de 4,6% no PIB mundial, contra as expectativas consensuais de um crescimento de 4,1%.
Em contraste com o Goldman, os analistas do Citigroup estão prevendo um crescimento da economia mundial de 3,4% em 2011. Michael Saunders, economista do banco, diz que isso se deve ao fato de apenas metade da economia mundial estar crescendo mais rapidamente este ano, do que sua média de longo prazo. "Para mais ou menos a metade da economia mundial, 2010 não foi um ano particularmente bom", diz ele. "Para 2011, acreditamos que apenas cerca de 45% do PIB mundial estará nas economias de crescimento acelerado."
As taxas de juros são primordiais para as expectativas dos investidores. A maioria dos analistas não está prevendo aumento dos juros pelos bancos centrais, com base no fato de que ainda há muita capacidade sobressalente nas economias desenvolvidas para acomodar políticas monetárias muito frouxas.
Isso deverá resultar em mais fraqueza do dólar, principalmente por causa da decisão do Federal Reserve (Fed) de embarcar em uma segunda rodada de "afrouxamento quantitativo", ou das compras de títulos do Tesouro para estimular a economia, um programa que vai durar pelo menos até junho.
Movimentações de alguns bancos centrais para aumentar os juros também poderão manter o dólar sob pressão. "Vários bancos centrais adiaram o aperto em 2010 por causa dos riscos que estão vindo dos Estados Unidos, Europa e China", diz John Normand, diretor global de estratégia de câmbio do J.P. Morgan, que lista regiões com preços de moradias inflacionados, como os países da Escandinávia e a Suíça, como como candidatas a aumentar os juros.
"Os mercados financeiros não estão computando nos preços esse resultado e os movimentos de spreads resultantes deverão ser ruins para o dólar", afirma ele.
Os juros baixos nos EUA, e o dólar fraco, provavelmente darão suporte ao ouro, visto por alguns investidores como um "hedge" contra os riscos de curto prazo e uma eventual recessão de duplo mergulho, além de um salto da inflação no longo prazo.