segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Clube das empresas bilionárias da Bolsa cresce 150% na década

Companhias com faturamento acima de US$ 1 bilhão passaram de 46 para
116 em dez anos; receita do grupo aumentou 420%

Nelson Rocco, iG

Puxado pelo crescimento da economia nos últimos dez anos, o grupo das
grandes empresas brasileiras está maior e mais vigoroso. São
companhias como Petrobras, Vale, Eletrobrás, Cosan, BRF Foods, CSN,
Marfrig ou Sabesp, todas com ações negociadas na Bolsa de Valores, que
vêm expandindo seus negócios e faturando cada vez mais.

Levantamento realizado pelo iG com base nos dados da consultoria
Economática mostra que as companhias abertas no País com faturamento
acima de US$ 1 bilhão passaram de 46 em 2000 para 116 em setembro
deste ano, uma expansão de 152%. O último dado leva em conta a receita
líquida em 12 meses, para facilitar a comparação anual. Além do
crescimento em número de empresas, esse "clube das bilionárias" viu
seu faturamento quintuplicar na década, saltando de US$ 128,8 bilhões
para quase US$ 670 bilhões, um aumento expressivo de 420%.

Foto: Getty Images

Plataforma da Petrobras, companhia que elevou a receita em dólares em
370% na década

A Petrobras, maior empresa brasileira, elevou sua receita em 377%,
passando de US$ 25,5 bilhões em 2000 para mais de US$ 120 bilhões
agora. A petroquímica Braskem é outro exemplo. Seu faturamento saltou
de US$ 1,5 bilhão para US$ 13,3 bilhões, ou 786% mais. A varejista Pão
de Açúcar, outra integrante do clube, foi no mesmo caminho e faturou
330% mais, alcançando US$ 3,9 bilhões.

Outras empresas passaram a integrar o grupo das bilionárias da Bolsa.
A construtora e incorporadora Gafisa estava longe do clube em 2000,
quando tinha faturamento de US$ 67 milhões. Em dez anos, após a
receita aumentar em mais de 3.000%, a companhia já é uma participante
de peso, com receita líquida operacional de US$ 2,2 bilhões.

São vários os fatores citados pelos analistas para explicar esse forte
desempenho das empresas. Vão desde o crescimento da economia
brasileira até a atenção que o capital estrangeiro passou a dedicar
aos ativos brasileiros.

Nova política fiscal

Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e
Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo
(Apimec-SP), lembra que, após o atentado às Torres Gêmeas, nos EUA, em
2001, houve um relaxamento da política fiscal dos países e todos
adotaram regras mais liberais, o que beneficiou as companhias em
última instância.

"Em 2003, começou um ciclo de crescimento, com a China despontando.
Foram cinco ou seis anos de crescimento da economia internacional, o
que trouxe melhores preços para as commodities", explica Alexandre.
Como as empresas brasileiras são grandes exportadoras de
matérias-primas, saíram ganhando com essa alta. "A melhora no cenário
internacional fez a economia brasileira crescer, a taxa básica de
juros caiu e os indicadores macroeconômicos ganharam um novo patamar.
Formou-se um cenário favorável ao crescimento."

Segundo Alexandre, nesse novo cenário houve avanços também nos marcos
regulatórios do mercado financeiro e de capitais, como a adoção de
normas de governança corporativa por parte das companhias abertas e a
criação do Novo Mercado na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros
(BM&FBovespa), a reforma na Lei das SAs, atuação mais forte da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além da melhoria nas
demonstrações contábeis.

"A década foi particularmente importante para o mercado brasileiro",
diz Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias
Abertas (Abrasca). "A criação do Novo Mercado foi um fator muito
expressivo", afirma. O Novo Mercado, em funcionamento desde 2000, é um
segmento de listagem das ações das empresas que se comprometem com os
mais altos níveis de respeito aos acionistas minoritários. O grupo já
conta com mais de 100 companhias.

Esse segmento de listagem atraiu mais investidores estrangeiros para o
País, já que as companhias se comprometiam com regras mais rígidas de
governança. Como num circulo vicioso, mais e mais companhias passaram
a abrir o capital, de olho na onda de liquidez interna e externa. "O
Brasil foi destaque em IPOs na década. Só perde para China e Índia",
lembra Castro. IPO é a sigla em inglês para oferta pública inicial de
ações. "Os estrangeiros levaram dois terços as ofertas iniciais de
ações", complementa Alexandre.

Mais estrangeiros

Os dados da BM&FBovespa dão conta de que, além de comprar ações
novatas, os investidores estrangeiros também elevaram sua participação
no pregão brasileiro. Em 2000, eles eram responsáveis por 22% do
volume financeiro dos negócios e em novembro último já detinham 35% do
total. Eles passaram, inclusive, a participar de uma Bolsa muito mais
pujante. A média diária de negócios na Bolsa saltou dos US$ 410
milhões em 2000 para a casa dos US$ 3,7 bilhões em novembro de 2010.

O total de empresas registradas na Bolsa, no entanto, caminhou no
sentido oposto: caiu de 495 há dez anos para 470 em novembro deste
ano. Muitas companhias fecharam o capital, foram compradas ou fundiram
seus negócios, como a Sadia e a Perdigão, que formaram a BRF Foods, ou
a VCP e a Aracruz, que se juntaram na Fibria.

Em contrapartida, uma grande parcela das empresas que hoje estão no
clube das bilionárias abriu o capital nos últimos dez anos. É o caso
da concessionária de rodovias CCR, que inaugurou o Novo Mercado. Na
época da abertura de capital, a companhia faturava cerca de US$ 550
milhões e agora supera os US$ 2 bilhões ao ano. A Natura, fabricante
de cosméticos, tinha receita líquida de cerca de US$ 666 milhões
quando entrou no mercado de ações, em 2004. Em setembro passado, a
empresa faturou US$ 2,9 bilhões anualizados.

A chegada de novas companhias na Bolsa acabou virando uma febre, só
aplacada com o banho de água fria provocado pela crise financeira
internacional, intensificada após a quebra do banco de investimento
norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. O Brasil chegou
a registrar 64 novas companhias desembarcando na Bovespa em 2007.
Neste ano, foram 10 empresas, sem contar outras 10 que já tinham ações
negociadas e fizeram novas ofertas.

Antonio Castro, as Abrasca, diz que para 2011 prevê um novo fluxo de
companhias abrindo o capital. "O que se espera do Brasil é ter mais
empresas listadas. Não dá para ficarmos na casa das 480 companhias.
Quando nos comparamos com outros emergentes, os números são muito
diferentes", afirma. Segundo ele, na Índia, há mais de 6 mil empresas
sendo negociadas nas duas Bolsas. Na China, são quase 4 mil. O clube,
portanto, deve passar a contar com novas associadas.