segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Petrobras: depois de tombo, boas perspectivas

O Globo - 20/12/2010


Capitalização polêmica fez ações da estatal caírem 28% no ano frente
ao Ibovespa, 2º pior resultado desde 1992

Bruno Villas Bôas


O ano em que a Petrobras realizou a maior capitalização da História -
a estatal levantou R$120 bilhões em setembro - foi também um dos
piores para quem tem dinheiro aplicado nas ações da companhia. O
desempenho dos papéis da empresa em relação ao Ibovespa - índice que
reúne as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa) e que é referência do mercado - foi o segundo pior dos
últimos 24 anos, superado apenas pelo resultado de 1992, mostram dados
da Economática. O péssimo desempenho das ações este ano, no entanto, é
visto por muitos analistas como uma oportunidade de ganhos para 2011.

O levantamento mostra que as ações preferenciais (PN, sem voto) da
Petrobras acumulam uma queda 28,19% este ano em relação ao Ibovespa
até a última quarta-feira, quando estavam cotadas a R$25,37. Essa
conta basicamente desconta do resultado do papel a queda de 1,05% do
índice no período. Já as ações ordinárias (ON, com voto) têm uma perda
acumulada de 30,50% em relação ao índice, a R$27,96.

Na crise internacional, as ações da Petrobras também caíram
fortemente, mas o Ibovespa acompanhou o tombo. Este ano, porém, o
índice tem ligeira baixa, enquanto os papéis da estatal derretem. Isso
significa que o desempenho da Petrobras é relativamente pior que na
crise:

- O cenário externo contribui para isso, mas o processo de
capitalização, suas causas e seus desdobramentos foram os principais
fatores que levaram a tamanha queda nas cotações do papel. Por mais
que tenha dado certo, o mercado não gostou de ser diluído - explica
Osmar Camilo, da Socopa Corretora.

Com uma adesão menor do que a esperada de pessoas físicas e
estrangeiros, o governo federal encerrou a capitalização com 48,27% de
participação na Petrobras, que antes era de 39,8%. União, BNDES e o
Fundo Soberano Brasileiro (FSB) injetaram, somados, R$79,847 bilhões
na estatal, mais que os R$74,8 bilhões necessários para pagar os
barris de petróleo cedidos no sistema de cessão onerosa. O avanço do
governo ocorreu principalmente sobre a fatia dos estrangeiros, que
encolheu de 37,4% para 31% após a oferta.

De 15 corretoras consultadas, 12 recomendam a estatal

Pela cessão onerosa, o governo cedeu para a Petrobras explorar cinco
bilhões de barris de petróleo em áreas não licitadas do pré-sal. Em
pagamento, recebeu ações da empresa. O valor desses barris também
suscitou polêmica: o preço médio foi de US$8,51, enquanto o mercado
esperava de US$4 a US$6.

Para especialistas, passada a capitalização e o que teria sido o pior
momento da zona do euro, as ações da Petrobras podem finalmente
começar a andar no próximo ano. Doze corretoras do mercado, de 15
consultadas, recomendam as ações da companhia. As áreas de análise
estimam um potencial de valorização de 35% a 48% nos próximos 12
meses. Nada garante, porém, que o potencial vai traduzir-se de fato em
ganhos.

- Os preços das ações estão baixos em relação a seus pares, como a
Vale, cujo preço é praticamente o dobro de um papel da petrolífera.
Durante muito tempo essa relação foi de um para um - lembra Paulo
Hegg, da Um Investimentos.

Além isso, o potencial de desenvolvimento das operações no pré-sal e
as recentes notícias sobre poços de petróleo - como a reserva de
Libra, que teria de 3,7 bilhões a 15 bilhões de barris de óleo
equivalente - tornaram as ações ainda mais atraentes a longo prazo,
segundo os analistas.

Mônica Araújo, da Ativa Corretora, espera um lento processo de
recuperação das ações nos próximos meses. Para ela, as notícias sobre
novos campos e a declaração de comercialidade (quando uma área é
considerada viável de ser produzida) de blocos conhecidos podem
ajudar.

De imediato, o mercado espera que a Petrobras declare comercialidade
de Tupi ainda este ano. Na pauta também está a definição dos diretores
da Petrobras no governo Dilma Rousseff. Rumores apontam que José
Sérgio Gabrielli permanece presidente da companhia. Mas outras
diretorias da estatal permanecem em jogo. Mesmo com trocas, analistas
não preveem mudança profundas na estratégia de atuação da Petrobras.

- Outra dúvida no ar é sobre a revisão do programa de investimentos da
empresa no primeiro semestre. O mercado quer ver se vai haver um
crescimento forte de investimentos nas refinarias - disse Mônica.

Para Erick Scott, analista da SLW Corretora, o fluxo de estrangeiros
também será determinante. Ele lembra que o desempenho da Bovespa ainda
depende em boa medida do capital externo, muito sensível a ameaças de
crises, como a vista recentemente na zona do euro:

- Quando os estrangeiros se retraem, procuram ativos mais seguros e
saem da Bolsa brasileira. Isso afeta papéis com grande peso, como
Petrobras.

Expectativa em relação à participação em licitações

No próximo ano, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) prevê realizar
duas licitações de áreas de exploração do pré-sal (camadas
ultraprofundas) e pós-sal. No pré-sal, pelas novas regras, a Petrobras
terá direito a 30% dos blocos a serem licitados pela agência e poderá
aumentar ainda mais essa participação.

- Não sabemos ainda como a Petrobras vai atuar nos leilões, se aumenta
essa participação ou não - diz Scott.

Mesmo com as incertezas, a corretora TOV tem recomendado aos clientes
trocar uma ação da Vale por duas da Petrobras. Segundo Otávio Focques,
analista técnico da corretora, os papéis da Vale estão no pico dos
ganhos, enquanto as ações da Petrobras começaram a reagir nas últimas
duas semanas:

- Os papéis da Petrobras ficaram praticamente de lado depois da
capitalização e agora começam a querer andar.

Sócio de uma empresa de viagens na Barra da Tijuca, Ricardo Oro é
acionista da Petrobras há 20 anos. Ele subscreveu as ações a que tinha
direito na oferta em setembro, embora tenha ficado um pouco
contrariado:

- Eu comprei, embora não concordasse com o que fizeram com os
minoritários. Nunca vi algo assim em mais de 20 anos. Agora vou
precisar de muita paciência para esperar as ações se recuperarem.