segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Investidor deve ignorar previsões para Ibovespa na hora de tomar decisões

Bancos e corretoras têm errado, com folga, as estimativas nos últimos
três anos; Para especialistas, cálculos são exercício de 'futurologia'

Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli

Há pelo menos três anos, as corretoras erram, com folga, as previsões
de fechamento do ano do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo
(Ibovespa). Para 2010, por exemplo, os grandes bancos arriscaram que o
Ibovespa chegaria em, pelo menos, 80 mil pontos. A três semanas do fim
do ano o índice permeia os 68 mil pontos. Na semana passada, a maior
parte dos bancos divulgou as previsões para 2011.

As apostas parecem mais moderadas e estão entre 85 mil (Itaú) e 87 mil
pontos (HSBC). As instituições foram procuradas para esclarecer como
são feitas as previsões, mas apenas o HSBC, que começou a prever
resultado para a bolsa neste ano, aceitou participar. Itaú, Bradesco e
Santander não responderam.

Especialistas no mercado financeiro concordam que as previsões têm
sido muito errôneas. "É assim ao redor do mundo, não só aqui no
Brasil", salienta Rogério Bastos, diretor da consultoria FinPlan. Ele
admite, no entanto, que há exageros. "É preciso cuidado. No início
deste ano vi corretoras prevendo até 120 mil pontos para o Ibovespa",
completa.

Para Celso Grisi, professor de finanças da Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), é preciso que
haja uma correção na forma como as instituições fazem as previsões.
"Para começar é preciso traçar, no mínimo, dois cenários: um otimista
e o outro realista", comenta. A partir daí, na opinião dele, as
corretoras poderiam divulgar previsões com variações de quantidade de
pontos. "Por exemplo, de 70 mil a 85 mil pontos", completa.

Futurologia

Ricardo Fontes, professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo), concorda com
Grisi e reforça que prever o desempenho do Ibovespa por um ano é
complicado. "É um exercício de futurologia difícil. A maioria errou
nos últimos anos. O mais correto seria fazer como o Banco Central que
ajusta a expectativa de desempenho de vários índices", afirma.

Com a constatação de que as previsões são difíceis de fazer, sobretudo
quando o assunto é Bovespa, os especialistas afirmam que o investidor
não deve tomar decisão a partir desses números. "Só o investidor bem
pequeno acredita na previsão e toma a decisão do investimento a partir
disso", comenta Grisi. O desempenho da bolsa depende de diversos
fatores da economia nacional e mundial.

Para 2010, por exemplo, quem fez a previsão mais próxima dos atuais 68
mil pontos da bolsa foi o HSBC, que esperava 75 mil pontos para
dezembro. "Nesse ano ficamos perto. Durante o ano, o Ibovespa já
marcou 73 mil pontos", comenta estrategista de renda variável da
organização, Carlos Nunes. Ele explica que, excluídos o desempenho
ruim do setor de siderurgia e a capitalização da Petrobrás, a bolsa
poderia estar no patamar planejado pelo HSBC. "Por isso é preciso
prever mais de um cenário. Sempre ocorrerão fatores inesperados",
insiste Grisi.

Para 2011, o HSBC prevê 87 mil pontos. A aposta principal, de acordo
com Nunes, deverá ser o setor de siderurgia, justamente por conta do
fraco desempenho atual. "Muitos projetos públicos e privados deverão
começar no próximo ano por conta da Copa do Mundo", estima.