terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Itaú Unibanco lança fundo para ganhar com a inflação

Por Alessandra Bellotto | De São Paulo
07/12/2010

A volta da inflação transformou-se em oportunidade de negócio para o Itaú Unibanco. A fim de atrair investidores preocupados com a perda do poder de compra devido à alta de preços, o banco acaba de colocar na prateleira um fundo para ganhar com a inflação, batizado de Itaú Estratégia Macro FI Renda Fixa.

Mais do que comprar Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), que pagam uma taxa de juros além da variação do IPCA, a nova carteira do Itaú busca obter retorno com a antecipação da inflação futura, conta o superintendente de renda fixa do Itaú Unibanco, Ronaldo Patah. "Acreditamos na maior capacidade do banco de antecipar quanto vai ser a inflação", afirma. A equipe econômica do Itaú, pontua Patah, está entre as "Top 5" do Banco Central (que mais acertam as projeções), o que dá mais segurança e conforto à iniciativa.

A principal estratégia do fundo é a compra de "inflação implícita", mas isso quando o Itaú achar que a inflação vai ser maior do que a que está nos preços. A operação consiste na compra de NTN-B simultaneamente à aquisição de taxa de juros no mercado futuro. O resultado disso é a compra de inflação implícita, medida pela diferença entre a taxa de juros dos títulos prefixados e o juro dos papéis corrigidos por índice de preços.

Esse tipo de operação é adotada nos outros fundos de renda fixa da casa, mas em percentual pequeno. Segundo Patah, a ideia de ter uma carteira focada na estratégia, numa iniciativa inédita no mercado, deve-se à maior oscilação nas expectativas de inflação e ao aumento da pressão de preços ao longo do último ano. "Nos últimos seis meses, as projeções começaram a oscilar demais, devido à volatilidade de preços dos alimentos", diz.

E, diferentemente do que a maioria acredita, segundo Patah, a alta recente de preços está muito mais atrelada à demanda interna e à renda em expansão do que ao cenário externo, de commodities para cima, criando oportunidades. Um sinal disso, aponta, é a inflação de serviços. Ele lembra, ainda, que o fato de o ano ser de eleições contribuiu para mudanças frequentes nos cenários.

Agora, se o gestor achar que a inflação vai ser menor, o fundo pode ficar comprado apenas em NTN-B, que paga um taxa pré mais IPCA. O raciocínio é que, se a inflação está menos pressionada, o risco de alta do juro real é bem menor. Outra alternativa nesse caso é o fundo manter apenas apostas pós-fixadas, ou seja, atrelada ao CDI.

Patah afirma que ainda mantém posições em inflação implícita, mas só de curto prazo, até o primeiro trimestre de 2011. Para o médio prazo, essas apostas já foram zeradas, uma vez que o BC finalmente sinalizou que vai subir o juro em breve.

Uma das vantagens da carteira, segundo Patah, é que a taxa de administração é de apenas 0,30% ao ano. Para o gestor ganhar, destaca o superintendente, as apostas do fundo precisam dar certo. O ganho está na taxa de performance, que é de 30% sobre o que exceder a variação do CDI. "Essa é uma maneira de o gestor ficar alinhado com os interesses dos cotistas", afirma.

A carteira será distribuída apenas no segmento private e terá aplicação mínima é de R$ 50 mil. "Esse é um primeiro passo para os clientes entenderam que a renda fixa pode ter maior volatilidade", diz.

O novo fundo é o meio de campo entre uma carteira de renda fixa tradicional, mais conservadora, e uma atrelada ao IMA-B, índice de mercado que mede a performance de todas as NTN-B no mercado e, portanto, mais volátil. Para efeitos de comparação, o fundo do Itaú tem o dobro de volatilidade de um renda fixa tradicional, mas um terço da oscilação da carteira que segue o IMA-B.