terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Lobby do etanol tenta prorrogar subvenções nos EUA

Alex Ribeiro | De Washington
07/12/2010

As negociações no Congresso americano para a prorrogação do subsídio e da tarifa de importação sobre o etanol entram em seus momentos decisivos nesta semana. O lobby do etanol do milho, que contraria os interesses dos produtores brasileiros, tenta incluir o assunto no acordo que está sendo costurado pelo governo Barack Obama com os parlamentares de oposição para estender os cortes de impostos feitos na gestão George W. Bush.

Hoje, os EUA concedem subsídio de US$ 0,45 por galão (equivale a 3,79 litros) de etanol misturado na gasolina, além de uma tarifa de importação de US$ 0,54. Esses incentivos vêm sendo renovados desde a década de 1980 e, se nada for feito, devem expirar em 31 de dezembro. Uma eventual prorrogação é ruim para as usinas brasileiras, que, embora produzam etanol de cana-de-acúcar mais baratos, não conseguem competir com os produtores americanos.

Nas últimas semanas, o lobby brasileiro conseguiu ampliar a sua base de apoio, juntando 17 senadores democratas e republicanos numa declaração contra a prorrogação dos incentivos. Mas o lobby do etanol do milho, que reúne produtores do cinturão agrícola do Meio-Oeste americano, fez uma ofensiva para vincular os subsídios à prorrogação dos cortes de impostos do governo Bush, um tema prioritário na agenda legislativa de Obama.

No sábado, o Senado rejeitou uma proposta apresentada pelo presidente da comissão de finanças, senador Max Baucus, cujo tema principal eram os cortes de impostos do governo Bush, mas que continha um artigo sobre o etanol. O dispositivo prorrogava o subsídio por mais um ano, com um valor de US$ 0,36 em vez US$ 0,45, além da tarifa de importação.

A rejeição da proposta nada tem a ver com o etanol - os senadores não conseguem se entender porque os republicanos querem estender o corte de impostos de Bush para todos os contribuintes, enquanto que Obama quer tirar os benefícios dos mais ricos. Os dois partidos voltaram à mesa de negociação, e o lobby do etanol do milho tenta de novo incluir a prorrogação. Há grandes chances de chegarem a um acordo para ser votado até amanhã.

O representante nos EUA da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Joel Velasco, afirma que uma eventual queda do subsídio para US$ 0,36 o galão não é suficiente para eliminar a barreira ao produto brasileiro. Se o benefício for aprovado por apenas um ano, porém, crescem as chances de ele cair na próxima renovação. "O Congresso que acaba de ser eleito será mais conservador em termos fiscais", afirma Velasco.

A embaixada brasileira em Washington informou que intensificou gestões para o fim do subsídio ao etanol no Congresso e no governo americano.

Os subsídios ao etanol de milho custam US$ 6 bilhões anuais. Em janeiro, toma posse uma bancada mais conservadora, que defende cortes de gastos e redução da dívida pública. Senadores mais à esquerda do Partido Democrata também apoiam o fim do subsídio por entenderem que o etanol do milho compete com a produção de alimentos e não dá uma contribuição expressiva para a redução da emissão de gases-estufa.