segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Petrobrás e BG brigam pelos números do pré-sal

Grupo britânico, que tem participação no campo de Tupi, causa
irritação ao divulgar previsões de reserva maiores que as da estatal

Nicola Pamplona / RIO - O Estado de S.Paulo

A proximidade do fim do prazo exploratório do campo gigante de Tupi
acirrou uma guerra de informações entre a Petrobrás e sua principal
parceira no pré-sal da Bacia de Santos, a britânica BG. Em dois meses,
a BG divulgou dois comunicados que desagradaram à direção da
Petrobrás, por conterem projeções mais otimistas a respeito de volume
de reservas e custos relativos ao projeto.

Por trás dessa briga, segundo analistas, estão grandes divergências
estratégicas entre as duas empresas. Cansada de esperar por
atualizações das estimativas oficiais, feitas em 2007, a BG quebrou o
protocolo e decidiu publicar suas próprias projeções, que falam em
reservas próximas a 9 bilhões de barris e custos bem abaixo dos US$ 40
por barril usados pela estatal na avaliação do projeto.

"A BG está preocupada em gerar valor para seus acionistas,
movimentando as ações, enquanto a Petrobrás parece estar satisfeita em
ver seus papéis andando de lado", diz um influente executivo do setor,
que pediu para não ser identificado. Além disso, fontes próximas ao
projeto dizem que há reais divergências com relação aos custos para
iniciar a produção.

O embate começou no início de novembro, quando a BG divulgou
comunicado informando que uma nova análise feita pela certificadora
independente Miller and Lents Ltd. (MLL) ampliava em 2,7 bilhões de
barris as estimativas de reservas para seus ativos na Bacia de Santos.
O estudo diz que as melhores projeções para Tupi apontam para 8,99
bilhões de barris de petróleo e gás.

Na semana passada, a companhia divulgou nova nota, dizendo que, "à luz
das impressionantes características do reservatório e da alta
produtividade dos poços", estava calculando os custos do projeto em
US$ 14 por barril - US$ 5 referentes ao custo de capital e US$ 9 por
barril de custo operacional.

Os comunicados provocaram reação instantânea da Petrobrás. Em sua
última resposta, a companhia reafirmou que mantinha suas estimativas
iniciais: reservas entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris e viabilidade
econômica com petróleo entre US$ 35 e US$ 40 por barril. No texto,
ressaltava que a BG descumpriu o contrato de sociedade no projeto, que
tem ainda a participação da portuguesa Galp.

Comercialidade. A disputa ocorre na véspera de uma etapa importante
dos contratos petrolíferos no Brasil, chamada de declaração de
comercialidade, na qual o consórcio informa à Agência Nacional do
Petróleo (ANP) se ficará ou não com a concessão, comprometendo-se com
investimentos para extrair as reservas - no caso de Tupi, é notório
que as empresas tocarão o projeto. A partir desse momento, as
concessionárias estão liberadas também para apropriar as reservas em
seus balanços.

A BG já anunciou que as primeiras plataformas podem garantir
apropriação de 2,2 bilhões de barris nesse primeiro momento.
Questionado na semana passada sobre qual era o volume correto, porém,
o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, reiterou a projeção
de 5 bilhões a 8 bilhões de barris, mas disse que não poderia dar mais
detalhes.

A estimativa foi feita ainda em 2007, quando a empresa confirmou
oficialmente a existência do pré-sal, e nunca mais atualizado, embora
a estatal já tenha perfurado 11 poços na concessão.

A quebra do protocolo de divulgação de informações não é comum no
setor e pode denotar descontentamento dos britânicos com a maneira em
que a Petrobrás vem tratando a questão. Para um executivo próximo ao
projeto, além da falta de novidades que motivem os acionistas, a BG
considera conservadoras as projeções da Petrobrás. O desfecho desse
embate é esperado pelo mercado financeiro, que espera qualquer
novidade que dê um gás nas ações da Petrobrás, que sofreram este ano
por causa da capitalização da companhia.