quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tombini deve destoar de Fraga e Meirelles no primeiro Copom

O mercado amplia apostas de que o Banco Central manterá a taxa básica
de juros inalterada em janeiro

Alexandre Tombini, futuro presidente do BC, não deve aumentar os juros
na primeira reunião do Copom de 2011

São Paulo e Nova York - O mercado está ampliando apostas de que o
Banco Central manterá a taxa básica de juros inalterada em janeiro, na
primeira reunião de política monetária sob o comando de Alexandre
Tombini. Seria a primeira vez em mais de uma década em que um
presidente assume a instituição sem elevar os juros em seu comitê de
estreia.

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro mostram que os
operadores reduziram as apostas em um aumento da taxa Selic em janeiro
desde 8 de dezembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Gustavo Franco foi o último presidente do BC a manter o juro
inalterado em sua primeira reunião à frente do Comitê de Política
Monetária, em 1997.

Tombini pode manter a Selic estável após o crescimento menor do que o
esperado nas vendas do varejo em outubro ter sinalizado que a economia
está esfriando. Além disso, a desaceleração na inflação dos alimentos
está levando à previsões de que o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo, em 5,63 por cento no acumulado em 12 meses, poderia ceder.

"A inflação pode recuar com essa queda nos preços das commodities
agrícolas e não podemos ignorar a possibilidade de que o Banco Central
possa ganhar tempo com isso", Zeina Latif, uma economista sênior da
RBS Securities Inc. em São Paulo, disse numa entrevista por telefone.
"Os mercados estão divididos entre zero e 50 pontos-base."

Henrique Meirelles, que sai do comando do BC no fim do mês, elevou o
juro básico em sua primeira reunião à frente do Copom em 2003. Armínio
Fraga fez o mesmo em 1999.

Compulsório

Numa tentativa de limitar o crescimento do crédito e a inflação sem
elevar o juro básico, que já subiu 200 pontos-base desde o ano
passado, o governo anunciou um aumento no depósito compulsório dos
bancos em 3 de dezembro. A China subiu as alíquotas do compulsório dos
principais bancos em meio ponto percentual seis vezes este ano para
conter o avanço dos preços ao consumidor.

No Brasil, a taxa do DI com vencimento no mês que vem desabou 19
pontos-base desde o anúncio do aumento do compulsório para 10,65 por
cento ontem.

O Copom -- incluindo Tombini, que faz parte do comitê desde 2005 --
decidiu por unanimidade em 8 de dezembro manter a Selic em 10,75 por
cento, em linha com a estimativa da pesquisa da Bloomberg com
analistas. Os operadores esperam que o Copom suba a Selic em cerca de
200 ponto-base para 12,75 por cento até o fim de 2011, de acordo com
dados da Bloomberg.

Ata

O BC divulga a ata da reunião da semana passada hoje às 8h30 em
Brasília. Junto com a decisão naquela data, os oito membros do comitê
afirmaram ser necessário tempo adicional para avaliar o impacto do
aumento do compulsório.

"O mercado pensava que o Copom daria uma mensagem forte de alta da
Selic para janeiro, mas isso não aconteceu e o BC deixou a porta
aberta", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital
Markets, terceira maior corretora de câmbio na BM&FBovespa, em
entrevista por telefone de São Paulo.

Tombini, cuja indicação foi aprovada ontem por 37 votos a favor e 7
contra no Senado, e os colegas no BC estão "numa situação de esperar
para ver", disse Bertrand Delgado, um economista da Roubini Global
Economics LLC.

"O anúncio não foi claro após a reunião de política monetária, mas
dependendo dos dados, você tem a sensação de que eles podem subir os
juros em janeiro ou esperar um pouco mais, mas até agora, os dados
mostram que eles podem esperar um pouco mais", Delgado disse.