quarta-feira, 28 de março de 2012

Segundo "Milagre Brasileiro"?

Por Marcos Troyjo
Diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do IBMEC


Não há dúvida de que o baixo crescimento da economia brasileira em 2011 resultou – dentre outros fatores – dos reflexos da grave crise européia. No entanto, ele evidencia mais ainda os limites do atual modelo de crescimento brasileiro. O período de 2003 até o presente foi de grandes conquistas. Estas, contudo não são suficientes, como querem alguns, para caracterizá-lo como sendo um "segundo Milagre Brasileiro".

A bem da verdade, o "primeiro" (1968-1973), período em que o crescimento médio anual experimentado pelo Brasil foi superior a 11% do PIB, tampouco deveria ter recebido o nome de "Milagre". À época, como agora, o Brasil tinha escassa poupança interna. Dependia, como nos dias de hoje, de abundantes fluxos de empréstimos financeiros e de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) para sustentar seu crescimento.

 Em tempos de expansão da economia internacional e crédito externo abundante e barato, como na virada dos 1960-70, era fácil endividar-se para financiar o crescimento. Mercado interno de demandas reprimidas e influxos maciços de capital combinaram-se perfeitamente para produzir uma artificial sensação de prosperidade. O primeiro choque do Petróleo, como sabemos, desencantou o "Milagre".

 Agora, como há 40 anos, crédito externo também encontra-se disponível e a preços baixos – embora por razões distintas. As megacrises de 2008 e 2011 forçaram os bancos centrais do hemisfério norte a avizinhar suas taxas de juros a zero.  Com uma comparativamente elevada remuneração do dinheiro e um mercado interno protegido (embora cada vez mais poroso) por uma reinterpretação da política de substituição de importações, o Brasil tem mais uma vez ponteado preferências de investimentos de portifólio e IEDs.  

O Brasil de 2012 ocupa a mesma fatia da economia mundial  que detinha em 2002 (2,90%). Seu crescimento é também inferior à média do período atingida por Índia e China, ou por seus vizinhos latino-americanos que, como o Brasil,  crescente – e infelizmente – também têm se caracterizado por baixa prpditovidade e pela oligocultura (poucas commodities agrícolas e minerais) de exportação.

Nenhum, no entanto, dentre Rússia,  Índia, China ou demais latino-americanos, galgou tantas posições no ranking do PIB mundial graças à apreciação pura e simples de sua moeda no período 2003-até hoje.

O Brasil ocupa hoje pouco mais de 1% do comercio internacional (eram 2% em 1950) e encontra-se há mais de duas décadas estacionado no investimento de apenas 1% do PIB em Pesquisa & Desenvolvimento, um dos pilares essenciais do imperativo da inovação.

As realizações socioeconômicas da última década são inegáveis, sobretudo nos resultados de combate à pobreza e inclusão social, que promoveram a ascensão de 40 milhões de pessoas. Mas tal ascensão é mais impressionante quando o Brasil se compara com ele próprio ou com seus primos latino-americanos. Muito menos quando a comparação é com outros focos globais de crescimento, como os asiáticos.

Longe de um novo Milagre Econômico, o Brasil arrisca-se mais uma vez a comportar-se como "país-sanfona" – expansão e contração de sua economia ao sabor da conjuntura internacional e das vacilações na definição de um rumo estratégico.